sábado, 16 de fevereiro de 2008

FLORBELA ESPANCA


DIZERES ÍNTIMOS

É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade! ...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebês doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos ... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ...”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”
BIOGRAFIA
Florbela de Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa, no Alto Alentejo, em 8 de dezembro de 1894. Casou-se três vezes para desgosto de sua família, cursou Direito e colaborou com revistas literárias e feministas. Em 1927, Apeles, seu irmão, e segundo alguns seu verdadeiro amor, desesperou-se com a morte de uma namorada e mergulhou no Tejo pilotando um avião; o que agravou mais ainda sua doença.
Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu 36º aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”. Nessa poesia ela já anuncia seu fascínio por aquilo que lhe parecia ser o único lugar possível - a não existência nesse mundo para "ser-se" de novo no Paraíso.

Nenhum comentário: