quarta-feira, 29 de março de 2017

O QUE É DOGMA?

Parece absurdo, mas a crença em absurdos é uma das especialidades dos seres humanos. Existem estudos que apontam para a existência de um "supersentido" interno que nos predispõe à crença no sobrenatural, e isso desde os primórdios de nossa história evolutiva. A crença nos deuses, fantasmas, espíritos, magia, poder dos astros, adivinhações, poder da palavra ou do pensamento para criar realidades, anjos, demônios e tantas outras espécies de crendices são prova cabal dessa nossa capacidade cerebral de crer, e que faz questão de nadar contra a corrente das evidências.
Os dogmas são a confirmação de que a melhor maneira de não se questionar a falta de sentido de determinada crença, é evitar a discussão ou pesquisa a seu respeito. É como se não bastasse ao absurdo ou irracionalidade da crença se contentar com apenas o simples enunciado da mesma, não, ela tem que ser proibida de ser questionada ou mesmo discutida.

Outra característica dos dogmas é sua filiação à instituições religiosas, e o cristianismo - mesmo não sendo o único - é pródigo em cria-los. Desde a afirmação do dogma da "Trindade" no começo da virada institucional do cristianismo primitivo e seus inúmeros concílios que combatiam as chamadas "Heresias" (Nestorianismo, Arianismo e Gnosticismo principalmente), os dogmas foram fazendo parte indissociável daquela que se transformaria mais tarde na igreja Católica romana, instituição mais poderosa da Idade Média e verdadeira fábrica de dogmas.
É sobre um dos dogmas da igreja romana que quero contar um caso ocorrido em sala de aula. A virgindade perpétua de Maria e a imaculada concepção quando mencionados por aluno levou ao riso boa parte da classe e deixou constrangidas duas alunas que suponho católicas. Para nós, céticos não existe lógica para a sustentação de tais dogmas, e nesse caso, até mesmo o relato bíblico do Novo Testamento (Marcos 6:3; Mateus 13:55) depõe contra o dogma católico ao descrever Maria como uma mulher normal que teve vários filhos. Isso prova que não basta ter um "livro sagrado" para assegurar uma determinada crença, por si só já bastante inverossímil (engravidar de um Deus) mas o dogma que é criado para tornar o fantástico mais fantástico ainda.
Dei para os alunos minha versão da criação de um dogma: Se por exemplo um concílio decidisse que Jesus morreu enforcado em vez de crucificado, todo o debate seria em torno do significado da palavra "cruz", e certamente os defensores da tese do enforcamento concluiriam que onde se lê cruz deve-se entender forca, pois esse é o sentido original que o autor bíblico quis dar à palavra. Pronto, criou-se um dogma.

Pare de procrastinar agora mesmo