quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Educando a Polícia

Ontem uma usuária do CAPS em que trabalho me contou uma história que reflete muito fidedignamente as tensões (sofrimento) resultantes da violência, no bairro em que ela mora, são provocadas tanto pela disputa de território entre facções criminosas, quanto pela polícia.
A minha cliente tem um sobrinho de 16 anos, drogadicto, que está envolvido com integrantes do tráfico de drogas da região em que moram, e, além disso, comete pequenos furtos e talvez assaltos segundo sua tia pensa.
Semana passada o BOPE chegou ao bairro em que ambos residem (tia e sobrinho), pegou o rapaz e o submeteu a uma sessão de torturas em via pública, que entre a pequena multidão que assistia ao abuso de autoridade, ou simplesmente tortura, estavam a mãe e a tia do delinquente. E ninguém denunciou, nem a família, que nem sequer levou o jovem ao Hospital Geral para não ter que dar explicações. Medo de serem mortos pela polícia.

Isso me fez pensar sobre o que policiais deveriam aprender no curso de formação de policiais:

1. Aprender a controlar as emoções e também aprender a controlar os preconceitos. Nem todo bandido tem "cara" de bandido. Nem todo usuário de drogas é do crime organizado etc.
2. Devem aprender que os criminosos, principalmente os adolescentes, possuem uma família que a despeito de seus crimes, os amam e às vezes nem sabem de suas atividades criminosas (também vejo uma certa negligência nesse caso). E mais, muitos são portadores de transtornos psíquicos.
3. Eu também não simpatizo com criminosos, acho que nem deveriam existir, mas, por mais que eu deseje sua extinção, sou contra ações policiais que visem a eliminação sumária. E a tortura é inadmissível.
4. Muitos dos supostos (ou não) delinquentes são portadores de transtornos psíquicos, e seus familiares idem. Não se trata de achar que todos têm transtornos mentais, mas, que pelo menos esse caso (que eu estou atendendo como policial) possa ter, então deve-se agir com cautela. Pensar na possibilidade de estar errado.
5. Tudo isso com pessoas DESARMADAS. O policial deve aprender a preservar sua própria vida.

Precisamos de polícia sim!
Mas precisamos acima de tudo de um pensamento racional.