sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Movimento Estudantil em Alagoas - 2 Congresso da UNE 1981

Na foto ao lado se vê um repórter da Rede Globo, na porta do estádio de futebol de Arraial do Cabo, fazendo a cobertura do 33º Congresso da UNE em Cabo Frio -RJ.
Lembro-me de alguns ex-companheiros do PCdoB (lideranças estudantis da época) que estiveram presentes no Congresso: primeiro, os amigos e camaradas de célula Nilo e Marola, que levou a namorada "riponga" e totalmente alheia a qualquer movimento político. Tomás Beltrão, preseidente da UEEA (tempos depois mudou para o PT e se elegeu vereador); Edberto Ticcianelli, preseidente do DCE/UFAL (chegou a ser vereador pelo PCdoB e depois migrou para o PT), Lauro Pedrosa, preseidente do DA/Medicina ECMAL. Havia também aqueles que participavam do Movimento Estudantil sem no entanto militar em algum partido, como Aguinaldo "Pixote", e, a turma do recém criado PT, dos quais me lembro apenas de Tutmés Ayram pelo jeito esquisito de falar ao microfone e de Ricardo Coelho, por ser "gente boa", apesar de social-democrata.
Alguns fatos curiosos desse congresso:
  • Na chegada não tinha alojamento para a delegação de Alagoas, dormimos no ônibus e numa pracinha simpática no centro de Cabo Frio, que estava realmente muito frio. No dia seguinte invadimos uma escola e fizemos dela nosso alojamento.
  • O transporte das refeições ficou detido sabe-se lá porque, e, quem dependia das "quentinhas" para se alimentar passou fome mesmo - eu me incluo nesse grupo.
  • Um policial a paisana foi achado armado em meio a plenária do congresso. O presidente Aldo Rebelo decide colocar em votação o destino do policial (se entregaríamos ele à polícia ou liberávamos logo), enquanto os radicais do MR8 e da LIBELU (liberdade e Luta) gritavam a plenos pulmões: "Mata, mata, mata, mata...".
  • A eleição de Javier Alfaia (chegou a se eleger deputado), estudante de arquitetura da Bahia e militante do PCdoB, posteriormente enquadrado na Lei de Segurança Nacional por ser espanhol e os militares não aceitavam seu pedido de naturalização.
  • Após um dia de fome eu e outro rapaz fomos salvos por Nilo Borba que arranjou guarita na casa de um casal simpático, que nos deu casa, comida e bons momentos de prosa.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Curiosidade mórbida

Atendi recentemente uma paciente, que após uma violenta briga familiar, tentou suicídio ingerindo uma pequena quantidade de um famoso raticida.
Após uma semana de internamento no Hospital Geral do Estado, ela recebe alta médica e retorna ao convívio da família, dos amigos e vizinhos. Foi aí que seus problemas aumentaram.
O assédio dos vizinhos curiosos e as reprimendas de parentes que não cansavam de lhe lembrar que "a vida é boa", que "Deus abomina os suicidas", que seu ato foi indício de fraqueza, loucura e tantas coisas mais, estavam lhe causando um mal-estar tremendo, e fazendo com que ela permanecesse cada vez mais reclusa dentro de casa.
O cúmulo aconteceu quando algumas vizinhas lhe perguntaram pelo gosto do veneno: "O mulher, diz aí vai, que gosto tem veneno de rato?". Nessa hora sua vontade - me conta sorrindo - é dizer pra cada uma delas: "porque que vocês não provam um pouquinho?". Sem querer, minha jovem paciente descobriu o remédio ideal para por um fim na curiosidade mórbida.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

MULHER AO ESPELHO!

Ao ler o poema "Mulher ao espelho" de Cecília Meireles, lembrei-me de uma frase dita por uma paciente após relatar que quando jovem chamava a atenção dos homens (de todas as idades), e hoje, " ... Na rua, eles me olham de costas e devem me achar interessante ainda, mas quando me ultrapassam e vão conferir a frente viram logo a cara, pois veem que estou velha (sic)". Ela ri e acrescenta: "não me sinto velha, às vezes até me sinto como uma adolescente, querendo paquerar e me vejo sendo paquerada por uns garotões da idade de meu filho ... mas é só na imaginação ... antes eu era desejada, agora eu sou despejada!".
Ser despejada alude a ação em que alguém é destituído de sua casa por força da lei, é ser obrigado a desocupar uma casa, para que um outro a ocupe. Tal como a "jovem" e bela mulher que é expulsa de seu corpo-casa pela metamorfose do tempo, que a ocupa com uma nova e indesejada moradora, aquela que não aparece no espelho e só transparece no olhar dos homens que não querem olhá-la.
Simone de Beauvoir já dizia que só quem percebe que nós envelhecemos são outros, em nossa mente (pensamento e imaginação) a mudança é percebida muito lentamente, e, estamos sempre um passo atrás daquilo que o espelho reflete.
Cecília sabia disso:
"Já fui loura, já fui morena/ Já fui Margarida e Beatriz/ Já fui Maria e Madalena/ Só não pude ser como quis.