quinta-feira, 31 de outubro de 2013

OS GRANDES MITOS DA BÍBLIA - 1

1.       O Dilúvio Universal

Em um tempo marcado pela corrupção dos seres humanos, e em que até mesmo os seres celestiais (“os filhos de Deus” Gn.6.2) tomaram mulheres terráqueas para seu deleite sexual, gerando uma raça de gigantes e homens valentes (heróis ao estilo grego?), viu Deus a maldade dos humanos se espalhar pela terra, e, arrependido de tê-los criado (Gn.6.6) resolveu mandar uma grande inundação para pôr fim a “toda carne”.

Entretanto, existia um homem justo chamado Noé, e Deus resolve preservá-lo junto a sua família e a um casal de cada espécie de “tudo o que vive” (Gn.6.19), ou seja, de todo animal sob a face da terra para um posterior repovoamento pós diluvio. Para isso Noé deveria construir um barco de trezentos côvados de comprimento (133m), cinquenta côvados de largura (22m) e trinta de altura (14m). Assim que as águas começassem a cair o barco seria fechado na parte superior, pois, choveria por quarenta dias e quarenta noites, e, durante mais ou menos um ano ele navegou ao sabor das ondas até aportar no monte Ararat na atual Turquia (ver foto acima). Por um ano esse foi o lar de Noé, sua esposa, seus três filhos, suas três noras e um bom número de animais... Não deve ter sido fácil habitar nessa embarcação.

Assim como existe uma versão babilônica para o mito da criação, também existe uma historinha que possui inúmeras semelhanças com o relato bíblico do dilúvio; trata-se da epopeia de Gilgamés escrita em meados do século VIII a.C. Nessa narrativa babilônica, os deuses não estavam mais suportando o barulho causado pelos seres humanos e resolvem exterminá-los por meio de um dilúvio. Porém, Ea, deus das águas doces e um dos criadores da humanidade, avisa ao jovem Utnapistim do plano de extermínio e o manda construir um barco para que se salve, ele e a semente de toda a vida. E assim se fez, Utnapistim, seus bens, sua família e os artesãos que o ajudaram a construir o barco são poupados desse dilúvio que durou apenas sete dias e causou espanto até nos deuses que tiveram que se refugiar no mais alto dos céus, deixando a terra empilhada de cadáveres que já se transformavam em barro (lembram da criação do homem na Bíblia, feito de barro?).

Findo o dilúvio tanto Noé quanto Utnapistim fazem um sacrifício ao seu deus e são ambos abençoados: o herói babilônico é promovido a “deus” e vive feliz para sempre ao lado dos outros deuses; quanto ao herói bíblico lhe coube a missão de povoar a terra e reinar sobre todos os animais, recebendo a garantia da parte de Deus de que não teria que passar mais por nenhum tipo de destruição da terra por meio de um dilúvio (Gn.9.11); a partir de então, Noé virou agricultor, cultivou vinhas, inventou o vinho e também o primeiro porre da Bíblia, com sérias repercussões étnicas (Gn. 9.20-21).  

Histórias de uma grande inundação também aparecem nos relatos de outras culturas que habitaram aquela região, o que leva a crer que deve ter acontecido algum evento dessa natureza, ainda mais quando sabemos que a região era cortada por dois grandes rios (Tigre e Eufrates) e que o povo da Bíblia habitou por longo período as terras da Babilônia em dois momentos distintos de sua história e antes da composição escrita da Torá.  Desse modo, é lógico supor que tais histórias tiveram uma influência na construção dos mitos bíblicos, uma verdadeira reunião de relatos colhidos pela tradição oral e posteriormente adaptados à realidade social dos hebreus, que mais tarde foram escritos nos rolos, séculos depois, já no período monárquico. Além disso, existem registros no Alcorão, na história de Nuh, um dos cinco grandes profetas do islã; há também acréscimos da tradição cristã com os primeiros pais da igreja; e os acréscimos da tradição rabínica; todos eles tentando responder às questões que são colocadas abaixo, sobre quantidade de animais, convivência entre espécies, alimentação e destino de dejetos.

Apesar de tudo, principalmente da impossibilidade de se transpor um evento regional para o âmbito universal, ainda existem muitas pessoas que aceitam literalmente o relato bíblico como verdade incontestável. Milhões foram gastos em expedições ao Monte Ararate, na Turquia, onde acreditavam que a arca de Noé havia aportado, em uma tentativa de encontrar alguma evidência material da história bíblica.
E tudo isso sem sequer levar em consideração toda uma serie de impossibilidades de ordem mais direta, tais como:

·         De que se alimentaram os moradores da arca (humanos e animais) durante esse período de quase um ano?
·         Onde e como satisfaziam suas necessidades fisiológicas de excreção e como eram descartados os dejetos nos primeiros quarenta dias da arca fechada? E nos trezentos dias que se seguiram, como os oito tripulantes lidaram com as questões relativas à higiene dentro do barco, já que o mau cheiro deveria ser insuportável?
·         Como caberiam tantos animais num espaço tão pequeno, se sabemos hoje que só o número de espécies de insetos existentes seria suficiente para superlotar a arca sem sobrar o menor espaço para Noé e sua família?
·         Como a anta, o tamanduá e a onça vieram parar na América do Sul? O alce, a águia real e o lince na América do Norte? Os marsupiais na Austrália, o urso panda na China e tantos outros animais específicos de determinadas regiões?
·         Onde Noé arranjou tanta madeira para construir a arca numa região praticamente desértica?
·         E quanto tempo deve ter esperado para juntar os pares de animais antes de embarcar?
Pelo exposto acima fica difícil acreditar no Dilúvio como um evento universal. Está mais do que provado que não foi, entretanto, a autoridade conferida às escrituras como sendo a palavra de Deus, tem levado as pessoas a suspenderem seu pensamento crítico, racional, e a aceitarem a narrativa mitológica bíblica como verdade. É como aquela velha anedota, em que o fundamentalista  é questionado sobre a impossibilidade de o profeta Jonas ter passado três dias dentro de um grande peixe; ao que ele responde: se a Bíblia dissesse que foi Jonas que engoliu a baleia e que ela passou três dias dentro dele até ser vomitada eu acreditaria e ponto final. Evidências não convencem fundamentalistas de qualquer credo religioso, mas ajudam àqueles que ainda não se contentam com a suposta autoridade dos textos religiosos.
Mas a história de Noé não acaba com sua descida do barco; como dissemos acima: ele desce e vira agricultor, cultiva vinhedos, fabrica o vinho e toma o primeiro porre da história que resultará em maldição sobre o filho que o encontrou caído nu pelo canto da tenda, pelo simples fato de o filho ter visto a nudez de seu pai involuntariamente (Gn. 9.20-25). Aqui poderíamos questionar a justiça divina relativa as bênçãos ou maldições, mas deixemos isso para outra oportunidade. Cam ou Cão, pagou caro pela embriaguez de seu pai, foi amaldiçoado e a terra para onde foi também, que mais tarde seria chamada de África. Alguém lembra da história de um certo pastor deputado que faz escovinha no cabelo, e disse que os africanos são amaldiçoados? Pois é, ele estava se referindo a essa passagem da Bíblia, e nesse ponto vou defende-lo da acusação de racismo que lhe foi imputada, pois, não é que ele seja racista, o problema é que ele acha que a narrativa bíblica está correta. Assim como ele milhões de seres humanos são levados a crer na inerrância das escrituras sagradas; e, nesse movimento a razão é convidada a se retirar.
Quando contei essa história da arca de Noé para meu filho caçula, na época ele tinha seis ou sete anos, e ainda não sofria a influência da “autoridade das escrituras”, a pergunta que ele me fez (acho que depois de tanto assistir ao canal Discovery) foi: como pai é que um leão vai ficar ao lado de tanta comida sem atacar? Eu não sei, mas sei que a melhor resposta foi dada pelo site “Nauticursos” que assinala: “para pessoas dotadas de boa fé como eu, não é difícil acreditar mesmo analisando os fatos acima de que Noé realmente conseguiu tal feito, pois se tinha ajuda de ninguém menos que o Criador, aquele que em sete dias e sete noites criou todo o universo, construir um navio gigante e reunir todos os animais não foi assim uma tarefa tão descomunal. Acho que o simples fato de não haver provas é mais uma obra divina, pois apenas pessoas de muita fé são capazes de entender e acreditar neste fato colossal que para nosso Criador deve ter sido uma tarefa tão difícil quanto o estalar de dedos. Pensem nisso”.  

OS GRANDES MITOS DA BÍBLIA – 2



2. O LIVRO DE JÓ

Um dos livros míticos do A.T. da Bíblia, incluído na galeria dos “Livros Sapienciais” é o longo poema, provavelmente derivado de um conto folclórico presente na tradição oral do Oriente Médio e composto por no mínimo três autores que foi chamado de Livro de Jó. Em sua temática encontram-se reflexões sobre a origem do mal, sobre o sofrimento dos justos, sobre o valor educativo do sofrimente e sobretudo, a fé inexorável em quaisquer circunstâncias. Para alguns teólogos esse é o mais antigo escrito bíblico, anterior ao livro de Gênesis, apesar de ter sido escrito no período pós-exílio da Babilônia, por volta do século V a.C.
No primeiro capítulo os cinco primeiros versos descrevem o gentio Jó, da cidade de Uz, como homem próspero e temente a Deus. Entretanto o mais surpreendente é o fato de Deus fazer uma aposta com Satanás para provar a fidelidade de Jó. Vejamos os versículos abaixo:

6. E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. 7. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. 8. E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal. 9. Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde? 10. Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos  abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra. 11. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face. 12. E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor.

No verso seis, Satanás está situado entre os “filhos de Deus”, ou “anjos” em outras traduções, em nada lembrando aquela oposição tão fortemente realçada pelo cristianismo, para quem Satanás (ou o diabo) permanece como o adversário de Deus (e por extensão da humanidade) por excelência e que só será derrotado no fim dos tempos após a volta de Cristo. Só se for outro diabo o do cristianismo, porque esse aqui não só freqüenta as esferas celestiais como demonstra certa intimidade com o chefe. Os versículos sete e oito dão mostras dessa intimidade, parece até um diálogo entre dois velhos amigos que não se vêem há algum tempo.
Deus provoca Satanás no verso oito, gabando-se de ter um adorador tão perfeito quanto Jó, mas é imediatamente contestado, pois, se Jó o adora não é sem motivo, alega o capeta, mas graças às bênçãos recebidas sob a forma de saúde, fecundidade, riquezas e harmonia familiar. Nesse ponto Deus parece ficar ofendido com a audácia do outro que lhe lança um desafio (verso onze), uma aposta que é aceita sem questionamento.
Como um conto ou uma poesia popular que trás ensinamentos, conselhos moralizantes e procura entender os mistérios da existência e da(s) divindade(s) assim prossegue o livro de Jó, que perde seus bens, seus dez filhos de uma só vez, sua saúde, mas mantém sua fé. No final ele foi recompensado (!?): ficou mais rico do que era, teve mais dez filhos, foi consolado pela parentela com presentes de ouro e prata e viveu mais cento e quarenta anos. As lições que se podem tirar da atitude de Jó e de Deus são inúmeras, mas, o principal é ter aprendido que Deus é Deus, age como quer e quando quer, pode punir o justo e abençoar o ímpio, e que ninguém pode entender Sua vontade ou Seus atos e ponto final.

Entender o livro de Jó como mais uma historieta para incutir o temor ao Senhor Deus Todo-Poderoso na cabeça do povo seria a forma mais correta de compreendê-lo, entretanto, os fundamentalistas o vêem como narrativa real de um evento real, demonstrando mais uma vez o inexorável vínculo existente entre fundamentalismo e falta de inteligência. Os cabeça-duras são tão burros que não se convencem nem com o argumento da onisciência de Deus; pois, se Ele o é, saberia o resultado da aposta antes mesmo de tê-la aceitado, e pouparia tempo e nem precisaria castigar de forma tão sádica um homem reputado por “justo”.
Outra incongruência: Deus faz um pacto com Satanás ao aceitar o desafio proposto, que coisa mais louca não? Porém, mais louco ainda é quem acredita na realidade dessa história, e eu conheço umas tantas pessoas que creio dever fazer um esforço muito grande para engolir essa disputa Deus-Diabo pra ver quem tem razão. Os cegos pelo fundamentalismo bíblico não vêem que Deus é rebaixado nessa história: ele é retratado como provocador, vaidoso, arrogante e inseguro. È por essas e outras que alguns militantes ateístas afirmam que a maneira mais rápida de se tornar ateu é lendo a Bíblia, e o livro de Jó deve ter dado muita contribuição à causa.

sábado, 5 de outubro de 2013

O Apóstolo 2

Criei essas tiras em um site de cartoons gratuitos (www.toondoo.com/) e o objetivo é claro: fazer uma crítica aos pastores bandidos, cuja maior aspiração é enriquecer às custas de um povo carente e ingênuo (por que acham que é dando - dinheiro - que se recebe), usando da mentira e da intimidação para atingir seus objetivos.
O "Apóstolo" é um retrato fiel dos principais pastores caça-níquel da televisão brasileira: Edir Macedo, Waldomiro Santiago, Silas Malafaia, RR Soares e Estevão Hernandes. Esse fenômeno da picaretagem evangélica na TV brasileira tem alimentado os programas de humor na internet, e tem surgido excelentes caricaturas como o Pastor Arnaldo e o Pastor Adélio, ambos podem ser vistos no youtube.