sábado, 18 de julho de 2020

Viciados em se fazer de vítimas.

Tenho visto e lido muitas postagens nas redes sociais de pessoas que vivem a se queixar de maus tratos por parte de amigos e familiares que elas mesmas ofenderam durante o tempo em que foram usuárias de drogas. São frases do tipo: "Algumas pessoas podem odiá-lo por ser diferente e não viver de acordo com os padrões da sociedade, mas, no fundo, elas desejam ter a coragem de fazer o mesmo" ou "Me atire aos lobos que voltarei liderando a alcateia" ou "As vezes as pessoas fingem que você é uma pessoa ruim para que elas não precisem sentir culpa pelo que fizeram contigo".
Existem outras tantas frases do tipo, sempre rasas - como é típico nesse meio "coach" ou de autoajuda -  e sempre isentando de responsabilidades o coitadinho do dependente químico, ou dando a entender que por estar em tratamento o toxicômano seria algo como um herói, alguém que sofreu tremendas adversidades, sempre provocadas pelos outros é claro, e superou, reergue-se triunfante a despeito da maldade que o mundo lhes causou.
Nada mais falso que isso. O drogadicto pode ter passado por muitos problemas familiares em sua infância que contribuíram de forma indireta para a busca pela solução mágica que as drogas oferecem, entretanto, o uso e o comportamento ligado a adicção vão variar enormemente de pessoa a pessoa. Nem todos beberão seu álcool favorito com uma voracidade extrema e numa frequência cada vez mais crescente, nem todos fumarão sua maconha de forma a não conseguir fazer mais nada de produtivo na vida (como estudar ou trabalhar), nem todos usarão estimulantes como se a vida fosse uma "rave". Do mesmo modo, nem todos chegarão a roubar, ou a agredir moral e fisicamente os familiares, ou a transformar as festas e reuniões em família em caso de polícia; isso de forma constante, reiteradas vezes, num ciclo de internação-saída-recaída-internação que parece não ter fim. A primeira frase, pode até trazer alguma verdade num contexto diferente do da toxicomania, talvez relacionada a um tipo de vida alternativa ao consumismo burguês desenfreado; no caso da drogadicção é até ofensivo algum idiota ainda afirmar que as pessoas desejam ser iguais a esses sujeitos e só não o são por lhes faltar coragem, como se fosse bonito e desejável viver a enganar as pessoas, a roubar, furtar, prostituir-se, dilapidar o patrimônio familiar, agredir o cônjuge, os filhos e os pais? Não, não é bonito nem desejável; a frase de autoajuda quer fazer o viciado acreditar que ele é que está certo, ele é o forte e corajoso por não viver de acordo com os padrões sociais, e, o restante do mundo, são só um bando de invejosos e covardes que se coragem tivessem estariam numa cracolândia qualquer cercado por todos aqueles seres superiores, corajosos e por que não dizer invejáveis.
A segunda frase do besteirol da autoajuda não dá para levar a sério, parece uma piada. Imagine um drogadicto jogados aos lobos e sua volta triunfante como líder da alcateia, logo ele, alguém que não consegue sequer ter domínio próprio, não consegue controlar seus impulsos, não suporta frustração, que age como um bebê voraz que ao menor desconforto chora desesperadamente, um sujeito desses não seria líder de coisa nenhuma. É mais uma fantasia grandiosa na cabeça desses "viajões" de plantão e que dita numa reunião de "malucos nada beleza" faz surgir uma imagem grandiloquente de superação quando na realidade o que se vê é que setenta porcento dos que estão a partilhar essas bobagens nas clínicas de "reabilitação" voltarão pior do que entraram e sem conseguir sequer ser líder de si próprio. Essa frase é um incentivo ao autoengano e só estando muito louco mesmo para acreditar nela, porque a vida do dependente químico é geralmente pautada por uma série de fracassos e caso fosse possível jogá-los aos lobos nem os ossos voltariam.
Essa última frase que escolhi para ilustrar o processo de vitimização por parte dos dependentes químicos é emblemática, é a completa negação de seu comportamento agressivo, antissocial, desrespeitoso e muitas vezes criminoso, logo, as pessoas "fingem" que ele é ruim para não se sentirem culpadas, que inversão de valores gritante. Se você rouba, agride, engana, trapaceia, fere, abandona, negligencia é porque naquele momento você está sendo sim uma pessoa ruim, muitas vezes constantemente ruim, já que pessoas boas não vivem a fazer coisa ruins para com as outras pessoas, parece lógico isso. Mais uma vez é a alimentação do autoengano para que o drogadicto se sinta como uma uma vítima e não o autor de sua história de fracassos, é mais fácil culpar os outros pelas nossas dificuldades e erros já dizia Freud, e desse modo o sujeito vai se enganando e se afastando cada vez mais daquilo que poderia realmente ajudá-lo a sair desse ciclo neurótico e meio perverso: a assunção de suas falhas, de sua pequenez e de sua maldade na relação com os outros, precisa assumir sua cota de ruindade e responsabilidade pela vida que leva e compreender que as pessoas apenas estão reagindo àquilo que sofreram por acreditar sempre, por dar mais uma chance, por estar tentando ajudar e sempre dando com os burros n'água.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

LIVROS DE PSICANÁLISE EM PDF

Conheci no Instagram o blog "Lacan em pdf"e fiquei admirado com a quantidade de livros importantes dos melhores psicanalistas desde Freud até nossos dias. Apesar do nome Lacan em pdf, o blog trás obras de Melanie Klein, Sandor Ferenczi, Françoise Dolto, o atualíssimo Juan David Nasio entre tantos outros. 

Recomendo a todos os interessados em conhecer a Psicanálise e principalmente para aqueles que irão atuar na área de saúde mental, é um conhecimento imprescindível, boa leitura! O link está logo abaixo: