domingo, 18 de fevereiro de 2018

Meu amigo psicótico

Tenho um amigo dos tempos de faculdade que apesar de não nos encontrarmos já a bastante tempo, nos comunicamos pelas redes sociais, principalmente o WhatsApp, já que não gosto do facebook, sou daqueles que leem as postagens mais não comentam. Pois bem, em nossa juventude ele fora um bom aluno, um ativista em todos os sentidos sem ser militante de partido de esquerda, um cara criativo e com ideias um tanto "loucas" mas nada que as pessoas o identificassem como um louco. Queria mudar o mundo como a maioria dos jovens do início da década de 1980 e viajava como muitos no universo da New Age, na teoria reichiana, em Gaiarsa, Roberto Freire e Jung, mistura eclética mas bem normal para a época. Era um bom sujeito, e creio que continua a sê-lo ainda hoje apesar de tudo.
Fiquei surpreso ao saber tempos depois de formados que ele havia abandonado a prática da Psicologia e passara a se dedicar à política partidária; era o tempo de surgimento dos movimentos ecologistas e ele encontrou nessa prática o seu novo cavalo de batalha: o Partido Verde de Gabeira. Ao lado disso, fruto talvez de uma bem sucedida incursão no mundo das artes, pois, participara como ator de uma peça que venceu o festival nacional de teatro amador, resolveu virar cineasta e a produzir filmes e dar cursos de interpretação, o que faz até hoje; e largou de vez a psicologia e começou a cursar Direito. Sim, o Direito, carreira que seu pai exerceu com certo destaque em terras alagoanas. Talvez fosse uma maneira de descobrir a "Lei do Pai" que nas mentes psicóticas não se inscreve senão como uma falta ou arranjo mal feito, não sei se esse é o caso, só sei que ninguém estranhou em nosso círculo de amizades, isso de se reinventar era bem a cara dele.
Muitos anos se passaram sem termos contato algum até o surgimento do WhatsApp e a possibilidade de se criar grupos de troca de mensagens. Alguém criou o grupo de Psicólogos 1984 e daí o contato foi retomado com grande alegria e compartilhamento de fotos, pensamentos e promessas de encontro, que aconteceram realmente, e tudo foi muito bom, todos aqueles adolescentes dos anos 80 agora já na meia idade voltando a se falar e lembrar dos tempos bons vividos em sala de aula; até a campanha presidencial que dividiu o país em petralhas e coxinhas, esquerda contra direita, Dilma versus Aécio.
Em nosso grupo tinha gente defendendo os dois lados e a maioria - éramos quarenta - silenciosa, que só acompanha os debates. Do lado da esquerda haviam seis amigos que postavam sempre e do lado da direita apenas três, eu, ele e uma amiga não tão chegada. Perdemos as eleições, muito bate boca até vir o processo de impeachment, acirramento da Lava-jato e aí o bicho pegou de vez.
Meu amigo saiu do grupo e rompeu relações com todos os que não concordaram com suas posições, voltou a ser ativista da causa da direita alucinada do país e tem como seu maior herói o psicopata Jair Bolsonaro. Não acredita que houve ditadura militar, acha que os comunistas estão tomando conta do país e clama para que todos se unam para salvar a pátria e a religião. Pirou de vez meu amigo. Outro de nossos amigos que nunca se manifestou nas redes, ao saber das posições atuais dele, resumiu assim: vocês estão esperando sanidade da pessoa errada.