segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Retrospectiva 2016

Essa é uma retrospectiva pessoal. Como foi meu ano de 2016? Foi um ano bom, com momentos de tensão e chateação, mas, com mais momentos felizes.
Apesar da crise nas áreas políticas e econômicas pelas quais o país passou, o ano transcorreu tranquilo, continuei trabalhando normalmente, tomando cerveja e fumando, passeando com os filhos e namorando minha parceira.
Acontecimentos marcantes: Resolvi colocar implantes dentários, foi um sufoco, quase sete horas de cirurgia, um pós cirúrgico desconfortável, sem poder comer sólidos, um horror, mas o resultado ficou bom. Mas não faria de novo.
Dois tios morreram em Caruaru, ambos já com a idade bem avançada, Tio Tota e tia Del R.I.P.
Viagens: Em janeiro fui para São Miguel dos Milagres, no camping com amigos; fomos (pai, mãe e a namorada) para Tamandaré, visitar a turma de Caruaru que estava passando férias; no fim do mês fomos ao Recife.
Em fevereiro fomos à Caruaru acompanhar o sepultamento de tio Tota. No dia 18 de maio fomos para Belo Horizonte, no dia 20 visitamos Ouro Preto e Mariana. No mês de julho fomos para um hotel fazenda em União dos Palmares e de lá para o show do Biquíni Cavadão em Garanhuns. Fui com meus pais para Caruaru no feriado de 7 de setembro. E a última viagem do ano foi para Peroba, litoral norte do estado, município de Maragogi; de lá fomos almoçar em São José da Coroa Grande.
Ah, e descobri essa praia maravilhosa de Sauaçui (meu filho mais velho costuma acampar lá e me deu a dica), o seu rio igualmente, aonde tirei essa foto que aparece acima com o filho caçula.
Que venha 2017!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Hipnose: a pobreza das evidências

Os Planos de Deus

Se tem uma coisa que todo místico concorda, seja ele de qualquer corrente espiritualista, é o chamado "mistério do plano de Deus", ou seja, eles não sabem e nem fazem a menor ideia sobre as vontades de seu deus, apesar de alguns místicos (padres, pastores, mulás etc.) afirmarem receber mensagens diretas do reino espiritual.
Na última semana o país ficou atônito com a tragédia aérea que vitimou mais de setenta pessoas, entre elas a comissão técnica e o time da Chapecoense, revelação da copa sul-americana. Diante da morte, e ainda mais de mortes trágicas e coletivas, e mais ainda quando há sobreviventes - um deles só sofrera pequenas escoriações - as tentativas de explicação segundo o "plano de Deus" mostram sem disfarce sua fragilidade, sua incoerência é desnudada. Qual seria o plano de deus para os mortos no acidente e para os sobreviventes? Certamente não seria o mesmo plano.
E quando um sobrevivente exclama: "Deus me deu uma nova chance!", mas não se pergunta o porquê de deus não ter dado a mesma "nova chance" para os colegas mortos, mesmo que não se saiba muito bem o poderia significar essa "nova chance". E é aí que vem a frase famosa, quando não se consegue ver o obvio da inexistência de qualquer plano de natureza divina, e o crente suspira: "São os mistérios dos planos de Deus". Pronto, está tudo explicado.
Não é de hoje que a humanidade busca explicar o inexplicável a partir de concepções sobrenaturais, religiosas e mágicas; é como se nosso cérebro necessitasse disso, tudo deve ser explicado, mesmo que a explicação seja completamente improvável, mas ainda assim satisfaz algumas mentes. Mas essa tentativa de explicação teológica esbarra em um ponto intransponível, que surge nas grandes catástrofes como o "11 de setembro" e o furacão Katrina nos Estados Unidos, e como a morte de jogadores, comissão técnica, jornalistas e tripulantes em Medelín na Colômbia. Não dá pra entender ou mesmo explicar os "Planos de Deus".
Os crentes mais honestos dirão que não entendem os planos de deus e pronto. Os mais zelosos vão tentar justificar os atos de deus em relação aos mortos e sobreviventes e vão inundar os meios de comunicação com grande quantidade de "pérolas", como essa proferida por Anne Graham em entrevista na TV sobre o porquê de ter acontecido os atentados em 11 de setembro:
'Eu creio que Deus ficou profundamente triste com o que aconteceu, tanto quanto nós. Por muitos anos temos dito para Deus não interferir em nossas escolhas, sair do nosso governo e sair de nossas vidas.  Sendo um cavalheiro como Deus é, eu creio que Ele calmamente nos deixou. Como poderemos esperar que Deus nos dê a sua benção e a sua proteção se nós exigimos que Ele não se envolva mais conosco?' 
E essa outra grande inverdade proferida pelo padre cantor Fábio de Melo ao se referir aos familiares dos mortos na Colômbia: "A dor da família hoje é de todos!". Só que não né padre, isso nada mais é que a tentativa (falsa, claro) piegas de "se colocar no lugar do outro", mesmo sabendo que não dá. Nunca a sua "dor" se comparará àquela de quem perdeu um parente, um filho, um marido, um amigo; até porque duvido realmente da existência dessa dor.
Precisa dizer mais alguma coisa? 

sábado, 26 de novembro de 2016

A Ideologia da Divisão

Eu não divido o mundo em cores, muito menos as pessoas. para mim não existem no mundo negros, brancos, pardos, amarelos ou marrons; existem pessoas, seres humanos, diversos, diferentes em muitos aspectos, singulares, mas pertencentes a uma única categoria: a humanidade.
Do mesmo modo que encaro a questão racial encaro todas as outras questões que insistem em nos separar, nos catalogar em gêneros, orientação sexual ou afiliação religiosa.
Insisto, somos humanos, homens e mulheres, gays ou heterossexuais, religiosos ou ateus, gordos e magros, altos e baixos, e de todas as cores ou nacionalidades, somos todos humanos.
Nossas características individuais de cor da pele, gênero e religião não nos faz melhor nem pior que outro ser humano. As ideologias e seus fanáticos defensores tentam nos dividir em categorias a partir de seus juízos de valor que são por natureza excludentes: racismos de todas as cores, feminismo, gaysismo, fascismo, comunismo, cristianismo, islamismo e todos os outros "ismos" que se puder pensar, servem unicamente ao propósito  de dividir os humanos em bons e maus; os bons são os que concordam com a minha ideologia, claro.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A Hipocrisia não deve prevalecer!

Para além das discussões sobre coxinhas e petralhas, que marcou o cenário político dos últimos sete meses, é melhor se ater aos fatos. Que o PT criou um sistema criminoso de governo não restam dúvidas, assim como não resta dúvida de que não foram os políticos petistas que inventaram tal esquema. Tivemos o MENSALÃO, que já mandou boa parte da direção do PT para  a cadeia, o PETROLÃO também sob a direção petista, liderando esse esquema de corrupção que culminou com a quase falência da Petrobrás. Tivemos as pedaladas fiscais da ex-presidente Dilma, outra que colaborou efetivamente para derrocada da economia do país e do naufrágio da Petrobrás; tivemos a impressão de que as diversas vias ou tentáculos do imenso polvo da corrupção, ao deixar seus rastros de tinta pelo caminho acabaria por apontar para o chefe, que por sinal todo mundo já conhece.
Foi Golpe o processo de impeachment?
A presidente sofreu o impeachment em um processo legal, fato indiscutível, não importando para nós se a câmara que a julgou seja tão ou mais corrupta que ela. Não foi golpe, é preciso ser muito burro ou devoto (usa a fé, não precisa de evidência) para acreditar nessa frase clichê que enchia a boca dos inocentes devotos do petismo. O vice-presidente, eleito junto com ela, assumiu o governo após seguir todos os tramites legais. Pronto. Isso basta para que qualquer pessoa entenda, mesmo sem gostar, que não houve nenhum golpe, o petismo é que se viu golpeado, e foi.
Outra coisa que os devotos petistas não entendem é que dentre os milhões de brasileiros que pediam a saída de Dilma e do PT do governo, nem todos eram a favor de Temer, Renan, Cunha, Aécio ou qualquer outro oposicionista, muitos como eu querem vê-los pagar pelos seus crimes também, tudo dentro da Lei, todos os corruptos e corruptores juntos numa prisão de segurança máxima. Cadeia para todo e qualquer politico desonesto de qualquer partido político ou ideologia; podemos incluir aqui os sindicatos desonestos e movimentos sociais que abrigam parasitas financiados pelo PT, e fazem o serviço sujo nas ruas, literalmente. Qual a moral dessas entidades, como a CUT ou o MST (pra citar só dois exemplos)? Elas recebem milhares de reais numa espécie de prostituição abjeta e descarada, seus dirigentes ocupam apartamentos de luxo e possuem verbas milionárias pagas pelo contribuinte. Aonde está a lisura, a decência a honestidade? Certamente não está no PT ou em qualquer uma de suas afiliadas.
Direita ou Esquerda?
A direita brasileira parece ser tão burra quanto a esquerda, às vezes desconfio que nós brasileiros sofremos de uma espécie de burrice crônica, que campeia solta em qualquer classe social, credo religioso ou filiação partidária. Haja vista o fato de algumas antas portarem cartazes pedindo a volta da ditadura militar, e dos recentes discursos na mídia tentando provar que não houve uma ditadura militar no Brasil. Eu acho mais fácil provar a existência do Saci do que essa tese inglória da inexistência de uma ditadura no Brasil que durou apenas duas décadas ( 1964-1985). O Bolsonaro afirmar que não houve ditadura é a mesma coisa que Lula afirmar sua honestidade; ambos estão mentindo.
Abomino os radicais de esquerda e de direita, considero-os iguais, ambos mantem uma vinculação religiosa com seus partidos e dogmas, deixam de pensar para seguir e repetir com as mesmas virgulas um já surrado discurso, feito um papagaio narcisista que se empolga com sua própria repetição imbecilizante. O que há em comum entre o direitista aloprado Jair Bolsonaro e o gay alopradérrimo e esquerdista idem Jean Wyllys? São papagaios narcísicos de polos opostos mas semelhantes em sua devoção cega a uma ideologia que os impedem de utilizar a maior ferramenta que a natureza nos deu: a capacidade de raciocinar. Abomino posturas fascistas da direita e da esquerda que sobrevivem denegando a realidade a "la Procusto".

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Deus e as eleições.

Domingo dia 30 de outubro, segundo turno das eleições para prefeitos em quase todo canto, e logo cedo sou surpreendido por uma "pérola" de uma colega em um grupo do whatsapp: "Gente, no debate de ontem na TV o candidato Cícero agradeceu a deus ao encerrar a campanha, e o candidato Rui só agradeceu aos colaboradores, se esquecendo de deus, logo não devemos votar nesse homem que não coloca deus em primeiro lugar na sua vida". Pronto, eis a imbecilidade em seu grau mais elevado.
A fanática religiosa que escreveu isso se esqueceu de algumas coisas bem patentes para quem vive em Maceió - como ela - e conhece a trajetória dos dois candidatos, ambos ex-prefeitos.
O candidato que agradece a deus, Cícero Almeida, é o único a estar envolvido em dois escândalos de corrupção (Máfia do Lixo e Operação Taturana) e enriquecimento ilícito, é famoso por defender a tortura e extermínio de bandidos "pé de chinelo" como clamava em seus tempos de repórter policial e aliado à tudo que não presta na política alagoana. Como prefeito em seu primeiro mandato realizou boas e necessárias obras na cidade, o que lhe levou à reeleição para um segundo mandato sem grandes realizações e marcado pelas maracutaias de sempre.
O outro candidato, Rui Palmeira, que não agradeceu aos deuses, apesar de ter uma leva de aliados corruptos na coalizão, ele próprio nunca esteve envolvido em qualquer tipo de ilicitude na vida pública; foi um bom administrador, fez grandes obras de infraestrutura e deixou a cidade mais bonita para realizar melhor sua vocação turística.
Mas, para as mentes irracionais dos religiosos fanáticos, nada disso é válido sem uma pitada de pieguismo santarrão, você só precisa falar de deus e pronto, você é o melhor, pode roubar, enganar, matar, estuprar, fazer caixa dois, ter contas nos paraísos fiscais, trepar com quantas e quantos quiser e ainda assim é um "Homem" ou "Mulher" de Deus, um "ungido" como os reis fodidos da antiga Israel.
Para o apóstolo Paulo (veja a carta aos Romanos, capítulo 13 do novo testamento de sua Bíblia), toda a autoridade na terra é constituída por deus, e logo conta com seu apoio, e qualquer oposição à ela é franca oposição a deus. Daí deduzimos que esse deus jamais poderia ser onipresente e menos ainda onisciente, basta ver as criaturas que governaram grandes reinos e nações e suas belas ações: desde Xerxes passando por Kublai Khan, Hitler e Stalin, e omitindo outros milhares de nomes, podemos concluir que esse deus não é lá muito confiável em termos de escolhas políticas, mas as antas de nada sabem, e nem querem saber.

sábado, 24 de setembro de 2016

CURANDEIROS RECORREM À CIÊNCIA QUANDO ESTÃO DOENTES

O curandeiro mais famoso do Brasil, o médium João de Deus que atende em Abadiânia no estado de Goiás, é um excelente exemplo de que seus pretensos métodos ou poderes de cura não passam de uma farsa grotesca alimentada pela fé (leia-se ignorância). Em maio do ano passado ele se submeteu a exames e posteriormente à quimioterapia para tratar de um câncer no estomago. Como se não bastasse, o sujeito é hipertenso e desde o ano 2000 é portador de três "stents" e depois de um novo exame de "check up", em 2012 colocou mais três. Porque será que esses indivíduos não recorrem às suas práticas mágicas quando estão doentes?

A repórter Adriana Dias Lopes, da revista Veja, indagou ao curandeiro o por que de ele não procurar ajuda entre seus pares do mundo espiritual, ao que o idiota respondeu com outra pergunta: "O barbeiro corta seu próprio cabelo?" É de uma burrice lamentável, mas o mais lamentável é saber que as pessoas procuram esses charlatães que abundam pelo país afora. Não sabem elas que as pretensas "curas" nada mais são do que Efeito Placebo, e que as únicas doenças que são realmente "curadas" nesses antros de magia e superstição (terreiros, igrejas, centros espíritas etc) são as doenças que chamamos de psicossomáticas.
Outro famoso curandeiro, só que do meio evangélico pentecostal, o autoproclamado apóstolo Valdemiro Santiago, que "cura" de AIDS a vários tipos de câncer em sua Igreja Mundial do Poder de Deus, utilizando para esse fim toalhas molhadas com seu próprio suor, entre outros artifícios bizarros, preferiu procurar a Ciência para tratar de um problema no joelho em vez de recorrer as suas toalhinhas. Em novembro de 2011 o charlatão e criminoso evangélico fez o que a maioria faz quando o caso é sério, procurou um dos,melhores hospitais do país e se submeteu a uma cirurgia. Nada de lencinhos, toalhas, unção com óleos ou oração: foi cirugia mesmo.

O povo é burro, mas o charlatão não: quando o bicho pega ele sabe que só através da Ciência é que haverá alguma possibilidade de ficar curado de sua enfermidade. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

IMPEACHMENT

Vi essa charge e cheguei a conclusão de que todo processo que levou ao impedimento da presidente Dilma, passa irremediavelmente pelo desgaste de sua imagem enquanto estadista, maior mandatária do país.
Claro está que uma administração incompetente marcada por alianças à base de propina e joguetes políticos, aliada ao que há de pior - corrupção e pedaladas fiscais - já são suficientes para queimar o filme de qualquer um. Mas a crença na impunidade, a vaidade, a arrogância narcisicamente exacerbada levam a isso: rejeição mais pessoal que política.
Claro está também que noventa porcento daqueles senadores que julgaram a processo de afastamento da presidente Dilma, são tão desonestos quanto ela, alguns até mais; mas isso não diminui os erros e crimes cometidos pela ex-presidente.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

RELAÇÕES DE PODER EM “A CASA DE BERNARDA ALBA


Federico Garcia Lorca nasceu em cinco de junho de 1898 no município de Fuentevaqueros, em Granada, Espanha; filho do pequeno proprietário de terras Federico García Rodriguez e de Dona Vicenta Lorca, professora primária que fomentou o gosto literário que manifestaria futuramente. Não foi um aluno exemplar, mas conseguiu ingressar no curso de Direito em Granada, transferindo-se depois para Madri, onde conclui a formação acadêmica e inicia um período de viagens ao exterior (Estados Unidos e Cuba). Ao retornar à Espanha, cria um grupo de teatro chamado “La Barraca” e provoca um choque, de dimensões e conseqüências extremas, na sociedade conservadora de então, por expressar suas idéias socialistas e uma forte tendência homoerótica. Esse espírito libertário causou tal incômodo aos poderes constituídos – o governo fascista de Franco e o catolicismo ultramontano – que culminou com sua prisão e execução em agosto de 1936.

Lorca estreia na literatura em 1918 com o livro “Impresiones y Paisajes”, e no teatro em 1920 com “El malefício de la mariposa”, seguindo-se, a partir de então, intensa produção artística que transita pelo universo da prosa, da poesia e do teatro. A crítica espanhola e internacional é unânime em reconhecer García Lorca como um dramaturgo excepcional, como um dos mais representativos autores de teatro em língua espanhola do século XX. Seu teatro fundiu elementos antigos – como o fatalismo da tragédia grega – e modernos, conferindo às personagens uma intensa força dramática e uma inegável dimensão real.

Nossa análise toma como objeto um dos textos de Lorca mais conhecido e encenado: “A casa de Bernarda Alba”, que ao lado de outras duas peças – Yerma e Bodas de Sangue – compõem uma trilogia que revela um cenário necrofílico dos costumes da Espanha de seu tempo. A trama se desenvolve numa casa situada em um pequeno povoado da Espanha; dezesseis personagens e as não numeradas “mulheres de luto”, todas do sexo feminino, são indicadas pelo nome ou pela função que desempenham naquele momento funesto nessa casa, que por transformar-se em algo similar a uma prisão ou convento, foi descrita pelas pesquisadoras Rosa e Silva e Maluf (2005) como “casa-cárcere da verdade”. O movimento das personagens é determinado pela decisão da protagonista, Bernarda Alba, de decretar luto fechado de oito anos em memória de seu finado segundo marido, o que provoca reações diversas em suas filhas, em suas criadas e nas outras mulheres circunstantes, colocando em cena uma variada gama de sentimentos e comportamentos demasiado humanos em que se sobressaem autoritarismo, fanatismo, machismo, preconceitos, vingança, desejo, gozo e interdição.

O autor traça ao longo da obra um desenho das relações humanas pelo viés das relações de poder: o poder nas relações sociais, que divide o mundo – interno e externo – entre aqueles que possuem capital e aqueles que não possuem; o poder nas relações familiares, que submete a esposa ao marido e os filhos aos pais; o poder enquanto representante de uma ordem divina, que opõe o carnal ao espiritual, e permeia todas as outras relações, situando-se sempre do lado das estruturas dominantes e repressoras. Bernarda é a fiel representante, pelo lado da dominação, dos três tipos de relação de poder apontados acima: para suas criadas ela é a “tirana de todos que a rodeiam”, ela é aquela que pensa que os “pobres são como os animais”, feitos “de outras substâncias”, e como tais devem ser tratados; para suas filhas ela é a guardiã da honra e representante da Lei, é agente da repressão dos desejos e da interdição ao gozo; além dos papéis supracitados, ela parece ser também a representante da ordem divina.

Examinemos cada uma das três relações de poder citadas acima. O exercício do poder nos relacionamentos sociais enquanto reflexo de uma superestrutura própria do capitalismo é apresentado no início da peça a partir das falas de Bernarda e das criadas. Para as últimas, a patroa é autoritária e dominadora (p.13), exerce seu poder com tirania e exibe como símbolo de seu poderio um bastão, que além de denotar uma fálica tirania – quem sabe uma alusão ao caráter misto e amalgamado que rege as relações de poder, que opõe não apenas riqueza e pobreza, mas se imiscui também nas questões de gênero – também aponta para a possibilidade de punição agressiva. O poder de Bernarda é o poder do latifúndio, do dinheiro, que submete os outros aos seus desejos, que faz sangrar as mãos da criada de tanto esfregar para deixar as coisas reluzentes (p.14), que as alimenta com as sobras de suas refeições (p.15) e as trata como a animais, como se pode ler no lamento de Pôncia “Mas eu sou uma boa cadela: ladro quando ma falam e mordo os tornozelos dos que pedem esmolas quando ela me atiça” (p.15).

Lorca desmascara também a reprodução desse modelo de dominação possibilitada pelo capital no comportamento da criada, que passa, ainda que momentaneamente, de humilhada (pela patroa) àquela que humilha ao outro que lhe é hierarquicamente inferior na escala social: a mendiga que vem “atrás das sobras” e é expulsa da casa pela criada que lhe lembra que ela pode ir sobrevivendo “como os cães”. Outro aspecto relevante a esse tipo de relação social que é muito bem pontuado na peça, diz respeito à sujeição quase que total da classe dominada aos desejos da dominante, para quem até o corpo da criadagem inscreve-se como sua propriedade, como se pode lê nessa fala da criada (p.18), cujo corpo e alma pertenciam ao seu senhor:
“Cansou de tudo, Antonio Maria Benavides, rijo com tua mortalha e tuas botas. Cansou de tudo! Já não voltará a erguer minhas anáguas atrás da porta de teu curral! (...) Ah, Antonio Maria Benavides, que não mais verás estas paredes nem vais comer o pão desta casa! Eu fui das que te serviram, quem mais te quis (desprendendo o cabelo). Como vou viver agora, Antonio? Vou viver?”.
E, no diálogo entre as duas criadas (p.16), o autor coloca em evidência a oposição dominante-dominado pela via da questão agrária, problemática que ocupou o centro dos debates entre a direita franquista e a esquerda pró-soviética da década de trinta na Espanha. Lorca expõe o problema de forma poética nesse diálogo que inicia com a fala da criada ao expressar sua inveja pela situação das filhas de Bernarda, afirma: “Quem me dera ter o que elas têm!”; ao que Pôncia responde: “Temos nossas mãos e uma cova na terra”, e a criada arremata: “É a única terra que deixam para os que não têm nada”, o que nos lembra o verso de João Cabral em Morte e Vida Severinas: “é a parte que te cabe nesse latifúndio”.

As expressões das relações de poder no âmbito das relações familiares parecem constituir o núcleo conflitivo central d’A Casa de Bernarda Alba. O drama se passa dentro de uma casa, símbolo da família, e, gira em torno de outros símbolos que também pertencem a essa ordem; desse modo, as questões relativas à honra, a obediência, a sexualidade (virgindade, gravidez, matrimônio), a saúde, a doença, a vida e a morte, inscrevem-se nesse universo como fio condutor dessa trama relacional, desenvolvida nesse espaço mítico onde se dá o embate dos problemas substanciais da existência humana. Bernarda, a protagonista, cumpre o papel de defender os valores tradicionais, morais e religiosos, em oposição ao ímpeto juvenil, aos desejos de amor e sexo reivindicado pelas filhas – principalmente Martírio e Adela. Com seu comportamento tirânico ela representa a sociedade, a tirania doméstica reproduzindo a tirania social, e suas ações repressoras de caráter necrofílico – pois os signos de tudo que possa evocar prazer e vida devem ser evitados – nos mostra o outro lado da moeda, já que também ela além de repressora é reprimida.

Tudo começa quando se arranja um casamento para a filha mais velha de Bernarda, que, aos trinta e nove anos, já passara da idade de casar; o que deixe claro o caráter mercantil desse acordo matrimonial, já que o noivo – Pepe Romano, quatorze anos mais novo – ao desposar Angústia é seduzido pelo encanto juvenil de Adela e nada pode fazer para viver essa relação, pois estava comprometido com a herança de Angústia, tal qual Enrique Humanes, que parte o coração de Martírio ao se casar com outra “feia como um demônio”, porém mais rica: “Que importa a feiúra. Para eles, importam a terra, as juntas e uma cadela submissa que lhes dê de comer (p.33)”. A presença de Pepe Romano na atmosfera da casa provoca um intenso rebuliço na vida das filhas de Bernarda, colocando em cena aqueles sentimentos que permeiam as relações humanas e mais ainda a relação entre irmãs: inveja e ódio, desprezo e ciúmes, desejos reprimidos e lascívia, hipocrisia e falsa moral; o que nos leva a pensar que elas não são simplesmente as pobres vítimas de uma força repressora, mas, de certo modo idênticas a sua mãe, inculta, acomodada e egoísta, a espera de um salvador que as tire dessa prisão em que elas mesmas se meteram. Uma amostra significativa dos sentimentos de ciúme e inveja pode ser observada nessa fala de Madalena:
“Se Pepe viesse pelo aspecto de Angústia, por Angústia como mulher, eu me alegraria; mas vem pelo dinheiro. Ainda que Angústia seja nossa irmã, aqui estamos em família e reconhecemos que ela está velha, doente, e que sempre foi a de menos predicados em relação a nós. Com vinte anos, parecia uma tábua vestida. Como será agora que tem quarenta? (p.35)”.

As relações de poder enquanto emanações de uma ordem divina estão representadas na peça quase que imperceptivelmente nos discursos de cada uma das personagens, quando aquiescem, conformam-se e reproduzem os valores religiosos e morais recebidos pela cultura de seu pequeno mundo rural. Talvez a ênfase posta pelo autor no subtítulo – drama de mulheres em vilarejos da Espanha – queira nos remeter ao âmago do que acontece na vida social dessas pequenas comunidades: as casas são em sua maioria construídas em torno da igreja, as festividades gravitam em volta desse espaço criado pela religião, os grandes acontecimentos da vida – nascimento, casamento e morte – passam pelo crivo da instituição religiosa. Até mesmo as questões mais íntimas – de amor, paixão e sexo – são intermediados pela instituição religiosa que prescreve as formas mais adequadas de realização dos desejos e se coloca na base da constituição da própria sociedade, ou como afirma ENRIQUEZ (2001:76):
“A religião como o pensavam DURKHEIM e FREUD, está na própria base da instauração da comunidade (e mais tarde da sociedade) e de seus modos de gestão política. Não existe corpo social nem orientação normativa desse corpo sem religião (sem culto dos ancestrais, sem totens, sem deuses ou sem Deus único)”.

Dentre todas as manifestações humanas reguladas pelo poder religioso a vida sexual parece ocupar lugar de destaque; na peça, é a ebulição desse caldo pulsional que leva a desejante e rebelde Adela à morte, justamente ela que no drama é o pólo que clama incessantemente por vida: quer usar vestidos coloridos, quer respirar o ar lá de fora, quer fazer do seu corpo aquilo que lhe aprouver. Mas, cabe à criada Pôncia, “que vê por detrás das paredes”, lembra-la de “controlar o desejo”, esquecer Pepe e não ir “contra a lei de Deus”. Controlar o desejo é antes de tudo controlar o corpo que deseja satisfação, entretanto, como o “destino confinou-as a este convento”, cabe-lhes reprimir a esse desejo que as desumaniza, que faz assemelhar a uma “mula selvagem” e contentar-se em esperar por seu homem mesmo havendo “uma tormenta em cada quarto”. Uma das cenas mais marcantes acontece no final do segundo ato, quando é contada a história da filha da Librada que engravidou estando solteira e matou a criança “para ocultar sua vergonha” e agora está sendo arrastada pela multidão que pretende lincha-la. As mulheres correm até a janela para ver o tumulto, e, Bernarda, em apoio ao ato do povo grita: “Acabem com ela antes que cheguem os guardas! Queime no inferno por seu pecado!”, nesse instante, Adela com as mãos no ventre, em franca identificação com a “pecadora”, protege sua cria e exclama: “Não! Não!”.

Parece que só restam duas opções para transpor os muros da tirânica prisão: a loucura ou a morte. Pela “liberdade” possibilitada pela loucura Maria Josefa quer ver o mar, sair da prisão, a imensidão do mar age como símbolo da mais pura liberdade, fugir pra bem longe da “cara de leoparda” e quem sabe morar numa “choupana de coral”. Adela escolheu o outro caminho, o modo mais radical, o protesto sacrifical contra toda repressão ao desejo, ao amor, à vida. Ela enfrentou a tirania de Bernarda ao quebrar sua bengala símbolo de poder, enfrentou suas irmãs e jurou obediência apenas a Pepe. Mas não conseguiria viver sem ele, a falsa notícia de sua morte a levou ao extremo, ela viveu e morreu apaixonadamente.  

O suicídio de Adela é totalmente denegado; principalmente quando sua mãe se recusa vê-la pendurada na corda, morta, e preocupa-se antes em afirmar que a filha “morreu virgem” e que a vistam como donzela e nada comentem para que a vizinhança não ficasse de mexericos e maledicências. Talvez esse tenha sido o final feliz para Bernarda Alba, a reconquista do poder:
“Não quero choros! É preciso olhar a morte cara a cara. Silêncio!  (A outra Filha.) – Calate, já te disse!  (A outra Filha.) – Lágrimas, só quando estiveres só.  Havemos de nos afundar todas num mar de luto.  Ela, a filha mais nova de Bernarda Alba, morreu virgem. Ouviram? Silêncio, silêncio, já disse: Silêncio!”





segunda-feira, 11 de julho de 2016

TED - Guarde seus objetivos para você



Publicado em 5 de out de 2014
Após vislumbrar um novo e brilhante plano para o futuro, nosso primeiro instinto é contar para alguém. Porém, Derek Sivers diz que é melhor manter nossos objetivos em segredo. Aqui, ele apresenta uma pesquisa com dados que datam desde a década de 20 para mostrar porque pessoas que falam sobre suas ambições têm menos probabilidade de alcançá-las.

TED - A aparência não é tudo. Acredite em mim, sou uma modelo.

terça-feira, 28 de junho de 2016

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O cara de pau

Hoje cedo, por ordem do STF foi afastado da presidência câmara dos deputados, e com bastante atraso, o rei da cara de pau: o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cunha chama a atenção pela frieza com que responde às inúmeras acusações que recebe, e não vacila diante das provas, é o tipo de sujeito que ao ser pego em flagrante, com as calças na mão, responde friamente: isso que você está vendo não corresponde a verdade.

No dia da votação do acatamento do processo de impedimento da presidente da República, mesmo sendo atacado com os piores adjetivos sua expressão nem mudava, era como se não fosse com ele. Representante da bancada evangélica, ele que é membro da igreja Sara Nossa Terra, especializou-se em mentir, talvez tenha a ver com seguir o exemplo de seus pastores da Sara, ou de seus amigos pastores como o famoso estelionatário Silas Malafaia. Certa vez ouvi uma piada que dizia que no inferno só tinha crentes, padres católicos por seus pecados sexuais e pastores evangélicos por causa de roubo e mentira, Cunha vem nos brindar com sua cara de pau e deve causar preocupação no inferno, já que será difícil para o diabo manter seu título de pai da mentira.
Resta-nos torcer para que esse bandido vá se juntar aos outros, e torcer também para que o povo aprenda a escolher melhor seus representantes.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A Cara do Brasil

Brasilia viveu mais um dia de circo no domingo passado durante a votação para a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma. Sempre precedidos de um argumento idiota e totalmente pessoal, tal como "por minha família, por meus filhos, pela minha mãe, pelo raio que o parta", os quase 513 deputados (as) iniciavam seus dez minutos de histrionismo.
O que aprendemos no domingo? Primeiro, que mais da metade dos parlamentares são semianalfabetos, a língua portuguesa nunca foi tão agredida quanto no domingo a tarde. Em segundo lugar, a completa falta de discussão política, de argumentação, de defesa de pontos e princípios seja à direita ou à esquerda foi a marca do dia.
Então, como se não bastasse a baixaria e a feiura do evento, aparece o deputado Jair Bolsonaro - da chamada bancada da bala - a fazer homenagem póstuma a um coronel torturador do DOI-CODI falecido ano passado, mostrando mais uma vez ao país sua índole malévola; em seguida o deputado "gaysista" de reality show em mais um de seus momentos "bicha-louca" cospe o fascista Bolsonaro; e, completando o dantesco quadro, aparece um deputado do ridículo e anacrônico PSOL a homenagear outra leva de bandidos, agora da esquerda como Marighella e Prestes.

O mais chocante foi ver isso: bandidos votando para punir bandidos. Lula, Dilma, Bolsonaro, Cunha e tantos outros daquela casa são semelhantes em quase tudo, apenas se situam politicamente em polos ou cores opostas.De um ex-presidente bêbado, pornográfico e ladrão; de uma presidente incompetente, criminosa e corrupta, de um militar psicopata que cultua torturadores e de um demagogo evangélico (pleonasmo!?) comedor de propinas o que se pode esperar? Apenas que todos eles paguem por seus crimes. Fora Corruptos de todas as cores e bandeiras.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Carta aberta ao Brasil - Mark Manson

Querido Brasil,
O Carnaval acabou. O “ano novo” finalmente vai começar e eu estou te deixando para voltar para o meu país.
Assim como vários outros gringos, eu também vim para cá pela primeira vez em busca de festas, lindas praias e garotas. O que eu não poderia imaginar é que eu passaria a maior parte dos 4 últimos anos dentro das suas fronteiras. Aprenderia muito sobre a sua cultura, sua língua, seus costumes e que, no final deste ano, eu me casaria com uma de suas garotas.
Não é segredo para ninguém que você está passando por alguns problemas. Existe uma crise política, econômica, problemas constantes em relação à segurança, uma enorme desigualdade social e agora, com uma possível epidemia do Zika vírus, uma crise ainda maior na saúde.
Durante esse tempo em que estive aqui, eu conheci muitos brasileiros que me perguntavam: “Por que? Por que o Brasil é tão ferrado? Por que os países na Europa e América do Norte são prósperos e seguros enquanto o Brasil continua nesses altos e baixos entre crises década sim, década não?”
No passado, eu tinha muitas teorias sobre o sistema de governo, sobre o colonialismo, políticas econômicas, etc. Mas recentemente eu cheguei a uma conclusão. Muita gente provavelmente vai achar essa minha conclusão meio ofensiva, mas depois de trocar várias ideias com alguns dos meus amigos, eles me encorajaram a dividir o que eu acho com todos os outros brasileiros.
Então aí vai: é você.
Você é o problema.
Sim, você mesmo que está lendo esse texto. Você é parte do problema. Eu tenho certeza de que não é proposital, mas você não só é parte, como está perpetuando o problema todos os dias.
Não é só culpa da Dilma ou do PT. Não é só culpa dos bancos, da iniciativa privada, do escândalo da Petrobras, do aumento do dólar ou da desvalorização do Real.
O problema é a cultura. São as crenças e a mentalidade que fazem parte da fundação do país e são responsáveis pela forma com que os brasileiros escolhem viver as suas vidas e construir uma sociedade.
O problema é tudo aquilo que você e todo mundo a sua volta decidiu aceitar como parte de “ser brasileiro” mesmo que isso não esteja certo.
Quer um exemplo?
Imagine que você está de carona no carro de um amigo tarde da noite. Vocês passam por uma rua escura e totalmente vazia. O papo está bom e ele não está prestando muita atenção quando, de repente, ele arranca o retrovisor de um carro super caro. Antes que alguém veja, ele acelera e vai embora.
No dia seguinte, você ouve um colega de trabalho que você mal conhece dizendo que deixou o carro estacionado na rua na noite anterior e ele amanheceu sem o retrovisor. Pela descrição, você descobre que é o mesmo carro que seu brother bateu “sem querer”. O que você faz?
A) Fica quieto e finge que não sabe de nada para proteger seu amigo? Ou
B) Diz para o cara que sente muito e força o seu amigo a assumir a responsabilidade pelo erro?
Eu acredito que a maioria dos brasileiros escolheria a alternativa A. Eu também acredito que a maioria dos gringos escolheria a alternativa B.
Nos países mais desenvolvidos o senso de justiça e responsabilidade é mais importante do que qualquer indivíduo. Há uma consciência social onde o todo é mais importante do que o bem-estar de um só. E por ser um dos principais pilares de uma sociedade que funciona, ignorar isso é uma forma de egoísmo.
Eu percebo que vocês brasileiros são solidários, se sacrificam e fazem de tudo por suas famílias e amigos mais próximos e, por isso, não se consideram egoístas.
Mas, infelizmente, eu também acredito que grande parte dos brasileiros seja extremamente egoísta, já que priorizar a família e os amigos mais próximos em detrimento de outros membros da sociedade é uma forma de egoísmo.
Sabe todos aqueles políticos, empresários, policiais e sindicalistas corruptos? Você já parou para pensar por que eles são corruptos? Eu garanto que quase todos eles justificam suas mentiras e falcatruas dizendo: “Eu faço isso pela minha família”. Eles querem dar uma vida melhor para seus parentes, querem que seus filhos estudem em escolas melhores e querem viver com mais segurança.
É curioso ver que quando um brasileiro prejudica outro cidadão para beneficiar sua famílias, ele se acha altruísta. Ele não percebe que altruísmo é abrir mão dos próprios interesses para beneficiar um estranho se for para o bem da sociedade como um todo.
Além disso, seu povo também é muito vaidoso, Brasil. Eu fiquei surpreso quando descobri que dizer que alguém é vaidoso por aqui não é considerado um insulto como é nos Estados Unidos. Esta é uma outra característica particular da sua cultura.
Algumas semanas atrás, eu e minha noiva viajamos para um famoso vilarejo no nordeste. Chegando lá, as praias não eram bonitas como imaginávamos e ainda estavam sujas. Um dos pontos turísticos mais famosos era uma pedra que de perto não tinha nada demais. Foi decepcionante.
Quando contamos para as pessoas sobre a nossa percepção, algumas delas imediatamente disseram: “Ah, pelo menos você pode ver e tirar algumas fotos nos pontos turísticos, né?”
Parece uma frase inocente, mas ela ilustra bem essa questão da vaidade: as pessoas por aqui estão muito mais preocupadas com as aparências do que com quem eles realmente são.
É claro que aqui não é o único lugar no mundo onde isso acontece, mas é muito mais comum do que em qualquer outro país onde eu já estive.
Isso explica porque os brasileiros ricos não se importam em pagar três vezes mais por uma roupa de grife ou uma jóia do que deveriam, ou contratam empregadas e babás para fazerem um trabalho que poderia ser feito por eles. É uma forma de se sentirem especiais e parecerem mais ricos. Também é por isso que brasileiros pagam tudo parcelado. Porque eles querem sentir e mostrar que eles podem ter aquela super TV mesmo quando, na realidade, eles não tenham dinheiro para pagar. No fim das contas, esse é o motivo pelo qual um brasileiro que nasceu pobre e sem oportunidades está disposto a matar por causa de uma motocicleta ou sequestrar alguém por algumas centenas de Reais. Eles também querem parecer bem sucedidos, mesmo que não contribuam com a sociedade para merecer isso.
Muitos gringos acham os brasileiros preguiçosos. Eu não concordo. Pelo contrário, os brasileiros tem mais energia do que muita gente em outros lugares do mundo (vide: Carnaval).
O problema é que muitos focam grande parte da sua energia em vaidade em vez de produtividade. A sensação que se tem é que é mais importante parecer popular ou glamouroso do que fazer algo relevante que traga isso como consequência. É mais importante parecer bem sucedido do que ser bem sucedido de fato.
Vaidade não traz felicidade. Vaidade é uma versão “photoshopada” da felicidade. Parece legal vista de fora, mas não é real e definitivamente não dura muito.
Se você precisa pagar por algo muito mais caro do que deveria custar para se sentir especial, então você não é especial. Se você precisa da aprovação de outras pessoas para se sentir importante, então você não é importante. Se você precisa mentir, puxar o tapete ou trair alguém para se sentir bem sucedido, então você não é bem sucedido. Pode acreditar, os atalhos não funcionam aqui.
E sabe o que é pior? Essa vaidade faz com que seu povo evite bater de frente com os outros. Todo mundo quer ser legal com todo mundo e acaba ou ferrando o outro pelas costas, ou indiretamente só para não gerar confronto.
Por aqui, se alguém está 1h atrasado, todo mundo fica esperando essa pessoa chegar para sair. Se alguém decide ir embora e não esperar, é visto como cuzão. Se alguém na família é irresponsável e fica cheio de dívidas, é meio que esperado que outros membros da família com mais dinheiro ajudem a pessoa a se recuperar. Se alguém num grupo de amigos não quer fazer uma coisa específica, é esperado que todo mundo mude os planos para não deixar esse amigo chateado. Se em uma viagem em grupo alguém decide fazer algo sozinho, este é considerado egoísta.
É sempre mais fácil não confrontar e ser boa praça. Só que onde não existe confronto, não existe progresso.
Como um gringo que geralmente não liga a mínima sobre o que as pessoas pensam de mim, eu acho muito difícil não enxergar tudo isso como uma forma de desrespeito e auto-sabotagem. Em diversas circunstâncias eu acabo assistindo os brasileiros recompensarem as “vítimas” e punirem àqueles que são independentes e bem resolvidos.
Por um lado, quando você recompensa uma pessoa que falhou ou está fazendo algo errado, você está dando a ela um incentivo para nunca precisar melhorar. Na verdade, você faz com que ela fique sempre contando com a boa vontade de alguém em vez de ensina-la a ser responsável.
Por outro lado, quando você pune alguém por ser bem resolvido, você desencoraja pessoas talentosas que poderiam criar o progresso e a inovação que esse país tanto precisa. Você impede que o país saia dessa merda que está e cria ainda mais espaço para líderes medíocres e manipuladores se prolongarem no poder.
E assim, você cria uma sociedade que acredita que o único jeito de se dar bem é traindo, mentindo, sendo corrupto, ou nos piores casos, tirando a vida do outro.
As vezes, a melhor coisa que você pode fazer por um amigo que está sempre atrasado é ir embora sem ele. Isso vai fazer com que ele aprenda a gerenciar o próprio tempo e respeitar o tempo dos outros.
Outras vezes, a melhor coisa que você pode fazer com alguém que gastou mais do que devia e se enfiou em dívidas é deixar que ele fique desesperado por um tempo. Esse é o único jeito que fará com que ele aprenda a ser mais responsável com dinheiro no futuro.
Eu não quero parecer o gringo que sabe tudo, até porque eu não sei. E deus bem sabe o quanto o meu país também está na merda (eu já escrevi aqui sobre o que eu acho dos EUA).
Só que em breve, Brasil, você será parte da minha vida para sempre. Você será parte da minha família. Você será meu amigo. Você será metade do meu filho quando eu tiver um.
E é por isso que eu sinto que preciso dividir isso com você de forma aberta, honesta, com o amor que só um amigo pode falar francamente com outro, mesmo quando sabemos que o que temos a dizer vai doer.
E também porque eu tenho uma má notícia: não vai melhorar tão cedo.
Talvez você já saiba disso, mas se não sabe, eu vou ser aquele que vai te dizer: as coisas não vão melhorar nessa década.
O seu governo não vai conseguir pagar todas as dívidas que ele fez a não ser que mude toda a sua constituição. Os grandes negócios do país pegaram dinheiro demais emprestado quando o dólar estava baixo, lá em 2008-2010 e agora não vão conseguir pagar já que as dívidas dobraram de tamanho. Muitos vão falir por causa disso nos próximos anos e isso vai piorar a crise.
O preço das commodities estão extremamente baixos e não apresentam nenhum sinal de aumento num futuro próximo, isso significa menos dinheiro entrando no país. Sua população não é do tipo que poupa e sim, que se endivida. As taxas de desemprego estão aumentando, assim como os impostos que estrangulam a produtividade da classe trabalhadora.
Você está ferrado. Você pode tirar a Dilma de lá, ou todo o PT. Pode (e deveria) refazer a constituição, mas não vai adiantar. Os erros já foram cometidos anos atrás e agora você vai ter que viver com isso por um tempo.
Se prepare para, no mínimo, 5-10 anos de oportunidades perdidas. Se você é um jovem brasileiro, muito do que você cresceu esperando que fosse conquistar, não vai mais estar disponível. Se você é um adulto nos seus 30 ou 40, os melhores anos da economia já fazem parte do seu passado. Se você tem mais de 50, bem, você já viu esse filme antes, não viu?
É a mesma velha história, só muda a década. A democracia não resolveu o problema. Uma moeda forte não resolveu o problema. Tirar milhares de pessoa da pobreza não resolveu o problema. O problema persiste. E persiste porque ele está na mentalidade das pessoas.
O “jeitinho brasileiro” precisa morrer. Essa vaidade, essa mania de dizer que o Brasil sempre foi assim e não tem mais jeito também precisa morrer. E a única forma de acabar com tudo isso é se cada brasileiro decidir matar isso dentro de si mesmo.
Ao contrario de outras revoluções externas que fazem parte da sua história, essa revolução precisa ser interna. Ela precisa ser resultado de uma vontade que invade o seu coração e sua alma.
Você precisa escolher ver as coisas de um jeito novo. Você precisa definir novos padrões e expectativas para você e para os outros. Você precisa exigir que seu tempo seja respeitado. Você deve esperar das pessoas que te cercam que elas sejam responsabilizadas pelas suas ações. Você precisa priorizar uma sociedade forte e segura acima de todo e qualquer interesse pessoal ou da sua família e amigos. Você precisa deixar que cada um lide com os seus próprios problemas, assim como você não deve esperar que ninguém seja obrigado a lidar com os seus.
Essas são escolhas que precisam ser feitas diariamente. Até que essa revolução interna aconteça, eu temo que seu destino seja repetir os mesmos erros por muitas outras gerações que estão por vir.
Você tem uma alegria que é rara e especial, Brasil. Foi isso que me atraiu em você muitos anos atrás e que me faz sempre voltar. Eu só espero que um dia essa alegria tenha a sociedade que merece.
Seu amigo,
Mark
Traduzido por Fernanda Neute

sábado, 16 de janeiro de 2016

O Mecânico e sua Esposa Piriguete - Marquês de Caralhau

Nunca houve na terra casal que brigasse mais que esses dois: Ivan, um mecânico alcoólatra de meia idade e sua esposa Marina, piriguete na faixa dos trinta anos. Por qualquer motivo eles discutiam mais acaloradamente, e, vez em quando saíam na tapa mesmo.
Eles residiam num pequeno cômodo localizado no primeiro andar do mesmo prédio em que ficava sua oficina mecânica de automóveis. Sempre que podia, e isso ocorria com frequência, a gostosa descia para olhar o movimento da oficina e se exibir um pouco, afinal de contas, como boa piriguete ela se alimentava dos olhares de desejo masculino que colhia naquele ambiente de cheiro forte de gasolina e óleo e graxa. Esse era um dos motivos para as constantes brigas.
Ela se vestia de maneira provocante: as saias e shorts sempre estavam muito acima da linha do Equador, e as camisas e blusas sempre bem decotadas, deixando boa parte dos enormes peitos à mostra. Os clientes mais atrevidos não perdiam a oportunidade de "cantar" a sedutora Marina nos descuidos do marido, ou quando ele desaparecia embaixo de algum carro. E ela dava esperanças a todos mas ainda não havia se envolvido com nenhum deles, tivera, é verdade, um ou dois casos sem importância, mas nunca com clientes da oficina.
No final do dia Ivan ia beber com os colegas numa birosca que ficava quase em frente da oficina e ao chegar a casa a briga era certa. Marina o acusava de falta de atenção e ameaçava por um par de chifres nele, como se já não tivesse feito isso, gritava para todo mundo ouvir: "Não me quer? Pois saiba que tem quem me queira viu... Você ainda vai me pagar seu cachaceiro de merda". Estava armada a confusão.
Quando viu o Vieira (cliente contumaz) e seu velho fusca na oficina, ela resolveu cumprir o prometido nas ameaças feitas a Ivan; insinuou-se da forma mais explícita possível aproveitando uma saída do marido e o Vieira não teve como resistir àqueles apelos de luxúria e depravação carnal, tanto que no dia seguinte estavam se comendo num motel barato de um bairro distante. Já no primeiro encontro ela fez de tudo: oral, anal e vaginal. O objetivo estava claro, causar uma boa impressão e se fazer mais e mais desejada pelo atordoado Vieira.
Eles saíram muitas vezes ainda antes do fim; os ciumes e o desejo de Marina de largar o marido e passar a morar com Vieira precipitaram o rompimento. Por mais gostosa e boa de cama que fosse, ele era crente na teoria do "se ela fez com ele vai fazer comigo". Ele deixou claro que não queria compromisso e ela fez um escândalo no motel, disse que iria se matar (a passionalidade é muito comum nesse tipo de mulher) e ele seria o culpado pela sua morte. Essa foi a última vez que se viram, e Vieira, que agora levava seu velho fusca para ser afinado em outro lugar, veio a saber que a tentativa de suicídio de Marina não passara de dois arranhões  nos pulsos provocados por uma faca cega, providencialmente procurada para esse fim.
Marina continuou casada e continuou a brigar com Ivan quase que diariamente, que a cada vez que bebia a chamava de puta e a mandava fugir com seu amante; e ela aguardava ansiosa a chegada desse dia, que seu príncipe encantado surgisse com um carro quebrado e a levasse dali para bem longe.