sexta-feira, 7 de março de 2008

A Bela da Tarde


Certo dia uma bonita jovem entrou no meu consultório do Posto de Saúde, eufórica e um pouco agitada, com ares de quem não sabe ao certo o que estar a fazer ali. Ao transcrever a sessão, dei-lhe o codinome de "Belle de Jour", não porque seu caso tivesse alguma semelhança com o de Sèverine, personagem interpretada por Catherine Deneuve no filme homônimo, mas, porque ela era bela e havia sido atendida no período da tarde - pura falta de criatividade. Ela tinha 23 anos e havia sido encaminhada pelo serviço de psiquiatria do Hospital Estadual. Perguntei-lhe o motivo da consulta, respondeu que não sabia, havia sido mandada embora do emprego - camareira de um hotel - e levada ao hospital psiquiátrico sem que ninguém lhe desse explicação. Perguntei se ela estava se sentindo estranha ou fazendo algo que os outros achavam estranho; ela respondeu que estava ótima, sem problemas e de bem com a vida, e a única coisa que ela fazia de estranho - (sic) pr'os outros, pois, eu acho normal - era falar com as paredes.
- O senhor acha que falar com as paredes é alguma coisa demais?
- Não, muitas pessoas fazem isso (respondi). Mas diga-me uma coisa: a parede responde quando você fala com ela?
- É claro né doutor, ou o senhor acha que eu ia ficar falando sozinha feito uma doida!!!

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