quinta-feira, 2 de abril de 2020

Uma viagem e o Covid-19. Parte 1

Uma viagem bem tensa.
No final do ano passado comprei um pacote turístico para fazer a travessia do Atlântico indo de Recife à Lisboa num navio de cruzeiro da Pullmantur, o Soberano, com duração de doze dias de navegação e duas paradas: uma em Cabo Verde, na ilha vulcânica de Mindelo e outra nas ilhas Canárias em Santa Cruz de Tenerife, uma viagem de sonho para mim amante de cruzeiros - esse foi o quinto que fiz.
Embarcamos no dia 4 de abril, no Recife em clima de festa, a animação no porto já era audível do lado de fora, grupos organizados com camisetas feitas para a ocasião, jovens e idosos, centenas de pessoas mal contendo a ansiedade de embarcar e desfrutar da comodidade e prazer que só uma viagem em um cruzeiro é capaz de proporcionar. Ainda não se falava em pandemia.
Um dia inteiro de navegação e passamos ao lado do arquipélago de Fernando de Noronha, os aparelhos celulares começam a apitar, tem WiFi na ilha, e quem não comprou o pacote de internet do navio (seiscentos reais) vibrou por poder voltar a ter conexão e mandar um alô pros familiares e amigos em terra. A paisagem linda, as festas se sucedem em três "decks" (11, 7 e 5) do navio, muita bebida e comida e muita animação até chegarmos ao Cabo Verde. Lá somos informados que não poderíamos atracar, as autoridades estavam proibindo a descida de passageiros por medo de contaminação com o novo corona vírus, achei aquilo um absurdo, pois não tínhamos nenhum caso no navio e já estávamos a mais de sete dias em navegação. Surgiu um princípio de revolta por parte de alguns passageiros que compraram passeios na ilha, entre eles eu, mas, lei é lei. Fomos avisados pelo comandante que partiríamos direto para Tenerife.

E assim navegamos para as Canárias, shows, festas e nada de piscina, pois, já estava bem frio, mas até aí tudo bem. Fizemos amizades, que duram até agora, bebemos muito e dançamos também, e numa linda manhã ensolarada aportamos naquelas ilhas lindas e pudemos finalmente pisar em terra. Tenerife foi uma surpresa pra lá de agradável, o lugar é de uma beleza cinematográfica, principalmente Puerto de La Cruz, acho que foi um dos lugares mais bonitos que já visitei; ilha vulcânica de praias de areia preta e mar azul, azul profundo e gente de todo mundo. O comentário que eu mais ouvi de várias pessoas foi: "eu poderia viver aqui e não ia reclamar", eu pensei o mesmo.
De Tenerife até Lisboa seriam dois dias de navegação, mas o governo português proibiu o atracamento do navio, e foi nessa hora que começou o medo, a incerteza de tudo, o navio entrou em polvorosa, todo mundo comprando o pacote de internet, princípio de revolta etc. Fomos avisados pelo comandante que iríamos atracar em Cadiz na Espanha e de lá seguiríamos de ônibus para Lisboa que era nosso destino. Atracamos e descemos para os ônibus que nos esperavam, antes de entrar neles enfrentamos uma fila quilométrica debaixo de um frio congelante, mas, enfim, seguimos de ônibus na madrugada numa viagem de oito horas rumo a Portugal, iríamos chegar na mesma hora que o navio atracaria caso tivesse sido autorizado, ou seja, ninguém perderia voos nem diárias de hotel, chegaríamos a tempo. Mas, a viagem que parecia tranquila teve seu momento de terror quando a polícia portuguesa parou todos os ônibus na fronteira, até aquela hora eram apenas oito ou dez ônibus parados, ainda viriam mais quarenta e cinco. Foram momentos de puro terror que durou apenas uns 40 minutos mas pareceram horas; e assim, às oito da manhã chegamos ao aeroporto de Lisboa, enfim, sãos e salvos. Encontrei o pessoal do receptivo da CVC e fui levado ao Hotel Turim na Avenida Liberdade, e pensei com meus botões: o pior já passou, agora só diversão, eu não sabia o que me esperava, mas isso eu conto na próxima postagem.

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