sexta-feira, 10 de abril de 2020

Uma Viagem e a Covid-19 - Parte 2

Chegamos em Lisboa no dia 15 de abril, finalmente, depois da tensão passada na estrada no caminho de Cadiz à Lisboa. No aeroporto fomos recebidos pelo pessoal da CVC e fomos para o hotel, era domingo, estava bem frio mas a cidade parecia estar com funcionamento normal. Ao chegar no hotel tudo parecia normal, deixei as malas e fui conhecer a cidade, pois, estava bem perto do centro histórico de Lisboa, na avenida Liberdade.
A primeira surpresa foi que apesar de eu achar que tinha muita gente na rua, fui informado por uma guia de turismo que ali não havia nem vinte porcento da quantidade de turistas que costumava ter em dias normais. Por mim tudo bem, a cidade estava bem melhor então, pensei, vou aproveitar mais ainda sem o inconveniente de esbarrar em centenas de pessoas disputando lugares para fotos ou restaurantes cheios etc. E assim me lancei na empreitada de conhecer a bela cidade de nossos conquistadores lusitanos, apesar de muitas lojas e restaurantes fechados, que julguei ser devido ao domingo, depois descobri que isso se repetiria nos dias seguintes, mas até aí tudo bem.
Meus problemas começaram quando vi na TV que Portugal fechou a fronteira com a Espanha; meu voo seria Lisboa a Madri, mas tudo bem, pedi à CVC de Maceió que mudasse meu voo, não consegui, mandaram-me procurar a Ibéria só que a Ibéria não tinha escritório no aeroporto de Lisboa, novamente eu disse para mim mesmo: tudo bem, e pedi à CVC para comprar outra passagem direto de Portugal para o Brasil e assim foi feito, embarcaria na quarta-feira de lá para Fortaleza e depois para o Recife.
Certo de que tudo estava resolvido fui "turistar" na bela capital portuguesa apesar de tudo estar fechado, menos as padarias e um ou outro restaurante. O terror tomou conta quando soube que no Brasil só dois aeroportos estavam a funcionar: Galeão e Guarulhos, logo, minha passagem para Fortaleza, que custou 14 mil reais, dançou. Bateu o desespero geral nos passageiros provenientes do Cruzeiro que tinham passagens por Madri e outros aeroportos fechados, e como trocar as passagens? Ou, para aqueles que não tinham mais dinheiro para comprar outra passagem, como voltar ao Brasil?
Fomos à Embaixada que nos mandou para o Consulado e o Consulado disse que nada podia fazer, pegou nossos e-mails e nos mandou esperar. Tentei no aeroporto trocar a passagem e não consegui, filas quilométricas, mau atendimento e muita tensão, pois as notícias eram cada vez piores, os hotéis não iriam renovar as hospedagens, muita gente sem dinheiro até para se alimentar, idosos com a medicação acabando, jovens sem condições de comprar outra passagem cujo preço aumentou em até quinhentos porcento e sem poder pagar diárias novas em algum hotel.
Com a ajuda de familiares (um cunhado e minha irmã caçula) comprei outra passagem, pois meu crédito tinha sido ultrapassado após comprar a passagem para Fortaleza, fui para outro hotel com a ajuda da CVC local e finalmente consegui embarcar num voo para São Paulo, e, de lá para Maceió. Mas, ainda havia centenas de pessoas que não tinham condições de fazer o que eu fiz, e os grupos que foram criados desde o começo da crise foram de grande ajuda, houve vaquinhas, distribuição de alimentos e criou-se uma rede de ajuda entre nós, "perdidos em Lisboa" para esperar a repatriação. Nessa crise uma coisa ficou patente: Embaixada e Consulado são cabides de emprego, não ajudam e até atrapalham.
Portugal, seu governo, está de parabéns por cuidar tão bem do país em tempos de pandemia, eles fecharam quase tudo, as grandes lojas de marca, os shoppings, entretanto, deixaram o turismo funcionar ainda que com limitações. Se alguém me perguntar se me arrependi dessa viagem, só posso dizer que sim, foi muito tenso, colocou-me à prova por várias vezes, ansiedade, temor, quase desespero, raiva e uma sensação horrorosa de que eu não iria conseguir resolver a situação. Gosto de ter tudo sob controle, odeio situações em que eu não possa controlar, dentro dos limites, pois sempre há o incontrolável. Aprendi coisas valiosas, uma delas me foi passada por uma passageira do Cruzeiro, cujo destino era igual ao meu, e me disse, quando a situação ficou mais tensa, que havia mentido para sua família sobre sua viagem, para eles ela estava em São Paulo fazendo um curso e que chegaria dia 20 de março. Mentir é uma bosta mesmo, tá mentindo para quem? O que você lucra com essas mentiras? Nunca perguntei para ela, mas espero que ela tenha aprendido algo com isso.
Enfim, cheguei em Maceió na madrugada do dia 20 de março, com medo de ter contraído o vírus mas aliviado por estar de volta. Doido para tomar um banho de mar e sentir calor, ficar suado de novo, saudades de meus pais e de meus filhos e de minha cama e de carne guizada "da mamãe". Já de cara soube que o isolamento social acabava de entrar em vigor, pra mim tudo bem, tinha vindo da Europa e iria cumprir minha quarentena de 15 dias. Continuo nela.

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