Resolvi meditar sobre essa verdadeira praga que vem se alastrando na televisão - seja aberta ou fechada - que são os programas sobre "celebridades". Em primeiro lugar, é evidente que a razão de existir de tais programas está diretamente vinculada à curiosidade da população sobre a vida alheia, e em particular, sobre aquelas pessoas que eles veem desfilar diariamente em suas telas de TV. Em segundo lugar, tal curiosidade só se sustenta devido ao vazio e pequenez experimentado - conscientemente ou não - pelos fãs desses programas.
Analisando a partir daquilo que Freud chamava de "princípio de realidade" (algo semelhante a racionalidade), qual a importância para minha - ou sua - vida saber se aquela atriz da novela terminou ou não o relacionamento com o galã da outra novela? Ou assistir ao casamento da cantora pop num castelo na Inglaterra? Ou saber se aquele famoso cantor de "pagode" batia mesmo na namorada e dava umas cafungadas maradônicas no pó branco? Ou mesmo conhecer a fundo as preferências sexuais daquele jogador de futebol, ou a vida sexual da apresentadora que havia no passado sido prostituta?
Racionalmente não dá para entender, só olhando através do que Freud chamou de "princípio de prazer" (algo ligado ao desejo inconsciente), e, por ele designamos tal comportamento como "Voyerismo". Isso mesmo, aquele que é classificado entre as perversões sexuais - ou "parafilias" na linguagem atual. Aí você pode argumentar que as notícias sobre os famosos exibidas nos tais programas, nem sempre se referem à vida sexual dos mesmos, então, onde estaria o voyerismo presente?
Convém lembrar que o "sexual" nem sempre é tão explícito e nem sempre se refere diretamente àquelas práticas ditas eróticas. O conteúdo sexual está muito mais presente em nossas vidas enquanto "falta", "falha" ou "furo", algo "não-dito" ou "mal-dito"; e aí ele toma vias alternativas para se expressar, geralmente metafóricas ou metonímicas.
Desse modo, os programas servem como uma luva para o deslocamento do gozo para longe do meu corpo, e promove o intercâmbio, o compartilhar de nossa miserável vida (sexual inclusive) pela vida do outro (a celebridade). Assim, eu gozo agora comentando com a colega de escritório sobre a atriz (galinha) que mal se separou do ator (que parece que é gay) e já está namorando o cantor (usuário de cocaína) que é ex-marido da apresentadora (bulímica) que fora casada com um jogador de futebol famoso (que gosta de travestis).
Na próxima postagem analisaremos alguns programas e a reação das "celebridades".
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