sexta-feira, 30 de julho de 2010

A "esquizofrênica" e a Moda.

Uma de minhas pacientes, diagnosticada pelos psiquiatras como esquizofrênica, é uma verdadeira "cientista social" devido às suas acuradas análises dos mais diversos acontecimentos de seu meio social.
Criou-se no mangue da Lagoa Mundaú seguindo os passos da mãe, catadora de sururu. Viveu até os 45 anos da cata e do "despinicamento" do sururu, da taioba e da "unha de véio".
Vaidosa, sempre gostou muito de "se arrumar", pois, dizia ela: "nunca fui bonita, mas sempre fui gostosa, assim como o senhor está vendo hoje, aos 49 anos... Imagine eu novinha doutor? Os carros paravam, buzinavam, os homens ficavam loucos" (E é a pura verdade, ela tem um belo corpo e ainda chama muito a atenção).
Perguntei-lhe então o que era "se arrumar" e como ela se arrumava; recebi então uma aula de sociologia da moda que tentarei reproduzir com as palavras e termos usados por ela:
" Veja bem doutor, pobre é diferente de rico no jeito de se vestir. A mocinha rica bota um short jeans, uma blusinha branca e uma sandália japonesa e já fica elegante, diferente de uma lascada daqui do vergel. Se ela botar as mesmas roupas da rica não fica bem, falta elegância no jeito de ser... A mocinha rica parece que já nasce sabendo ser elegante. Aí então a pobre por não saber ser elegante, faz o que? Se enfeita, e aí começa a prezepada... Ela começa a botar um enfeite aqui outro ali e aí danou-se, fica ridícula. Por isso eu digo: tem que usar o mínimo de roupa possível pra não parecer ridícula, e quem quiser falar que fale".

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