segunda-feira, 17 de maio de 2010

MULHER AO ESPELHO!

Ao ler o poema "Mulher ao espelho" de Cecília Meireles, lembrei-me de uma frase dita por uma paciente após relatar que quando jovem chamava a atenção dos homens (de todas as idades), e hoje, " ... Na rua, eles me olham de costas e devem me achar interessante ainda, mas quando me ultrapassam e vão conferir a frente viram logo a cara, pois veem que estou velha (sic)". Ela ri e acrescenta: "não me sinto velha, às vezes até me sinto como uma adolescente, querendo paquerar e me vejo sendo paquerada por uns garotões da idade de meu filho ... mas é só na imaginação ... antes eu era desejada, agora eu sou despejada!".
Ser despejada alude a ação em que alguém é destituído de sua casa por força da lei, é ser obrigado a desocupar uma casa, para que um outro a ocupe. Tal como a "jovem" e bela mulher que é expulsa de seu corpo-casa pela metamorfose do tempo, que a ocupa com uma nova e indesejada moradora, aquela que não aparece no espelho e só transparece no olhar dos homens que não querem olhá-la.
Simone de Beauvoir já dizia que só quem percebe que nós envelhecemos são outros, em nossa mente (pensamento e imaginação) a mudança é percebida muito lentamente, e, estamos sempre um passo atrás daquilo que o espelho reflete.
Cecília sabia disso:
"Já fui loura, já fui morena/ Já fui Margarida e Beatriz/ Já fui Maria e Madalena/ Só não pude ser como quis.

Nenhum comentário: