sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Ainda as eleições...

Ainda sobre as eleições desse ano, a pergunta que não para de ser feita por aquelas pessoas mais sensíveis e avessas a violência é: como alguém pode votar - e até exaltar como "salvador da pátria" - em um candidato que afirma defender a tortura, a ditadura militar e ser fã declarado de um dos maiores torturadores e estupradores do antigo regime ditatorial o famigerado Brilhante Ustra? E o que é mais grave, com o apoio quase que maciço dos cristãos brasileiros (católicos e evangélicos), que deveriam estar horrorizados com as falas e atitudes desse candidato, já que ferem diretamente os preceitos evangélicos de tolerância e não violência pregados por Jesus.
A resposta parecia ser muito complexa, só parecia, mas basta lembrar de uma coisa só e tudo se esclarece: estamos no Brasil - a terra das contradições que não se contradizem. Como já falou um antigo cantor, compositor e cronista por tabela, o grande Tim Maia, o nosso país é o único lugar do mundo em que traficante se vicia em drogas, prostituta se apaixona, cafetão tem ciúmes e pobre é de direita. Logo, cristão apoiar tiete de torturador é muito normal, aliás, os cristãos brasileiros customizaram a Bíblia para atender seus anseios de tal forma que institucionalizou-se um vale-tudo muito louco, a começar pelos seus pastores e líderes em sua maioria ladrões, estelionatários e golpistas, que apregoam uma moral que estão longe de cumprir.
Pensei inicialmente que o povo apoiava o Bolsonaro e sua plataforma neo-fascista por medo de mais um governo desastrado do PT, acho que isso até conta para uma minoria, mas para a maioria dos eleitores dele eu vejo é identificação mesmo com sua pseudo-moralidade cristã: "Deus acima de todos e o Brasil acima de tudo", um slogan burro e oportunista para seduzir oportunistas burros. O discurso de ódio aos gays, aos direitos humanos, à emancipação feminina e às políticas públicas assistencialistas caíram como uma luva na mão de seus apoiadores, que sim, são tão preconceituosos, racistas e misóginos quanto ele - infelizmente a maioria da população pensa dessa forma.
Já ouvi apoiadores dele afirmar que votam porque ele é honesto e contra a corrupção: onde já se viu um sujeito que usa verba de gabinete para sustentar funcionário fantasma e usa o auxílio-moradia tendo casa própria ser honesto? Isso vale também para o famoso juiz da operação lava-jato Sérgio Moro, que posa de bom moço quando na realidade faz o mesmo, tão safado, corrupto e amoral quanto aqueles que julgou e mandou prender. Logo, deduzimos que não é por causa da honestidade que se vota nele, assim como não é pela idoneidade do juiz que se apoia a lava-jato, outros fatores devem existir para justificar tal fato.
O psicanalista italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris, em seu livro "Hello, Brasil" cujo subtítulo é bem esclarecedor, "Psicanálise da estranha civilização brasileira", nos adverte para a tresloucada confusão entre o Pai que interdita (a ordem, a Lei, a verdadeira função paterna) e o Pai que não só autoriza mas até facilita o acesso ao gozo que deveria ser proibido, que permeia nossa relação com a coisa pública e com o nosso semelhante. Vivemos no império da não-lei, ou melhor, no império do "Jeitinho", logo, vale tudo: bandidos santarrões de direita e de esquerda com a graça de Deus, que aliás é brasileiro (apesar de ateu eu não tenho dúvida disso).
A palavra chave para os que não são devotos assumidos de algum candidato tomar partido nessa disputa entre o PT da "corrupção" e o fascista Bolsonaro é "Denegação"; deve-se acima de tudo não ver os defeitos de seu candidato ou partido, deve-se não escutar seus discursos cheios de ódio ou sua cara-de-pau ao afirmar que antes vivíamos num paraíso, deve-se idiotizar à direita ou à esquerda e então votar no dia 28 esquecendo-se que, ganhe quem ganhar quem perde é o Brasil. Mas é disso que o povo gosta.

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