domingo, 7 de junho de 2015

OS CONTOS ERÓTICOS DO MARQUÊS DE CARALHAU

Como pertence já ao domínio público, vou postar aqui no blog os micro contos eróticos do escritor pernambucano Stefanio Amilfe, autointitulado "Marquês de Caralhau", que pertenceu ao grupo de neo modernistas do começo da década de 1960, e cuja obra ainda não é conhecida do grande público leitor.

MARY: A SANTA LOUCURA

Ela era bem magra, bem branca e muito tímida. Era professora primária de um colégio do estado, fizera o Magistério e se considerava vocacionada para isso; seus dois sonhos, ser professora ou ser freira. Era uma mulher bonita, ainda mais porque do alto de seus vinte anos, seu tipo físico e a cor de sua pele lhe conferiam uma aura de santidade; parecia-se mesmo com as santas de gesso dos altares católicos, seus longos cabelos exageradamente negros também ajudavam a compor o quadro.
Entre seus colegas de trabalho havia uma mulher na faixa dos trinta anos que chamava a atenção pela forma de se vestir e se movimentar, elegante, graciosa e além de tudo era muito gostosa, e sabia disso e usava isso a seu favor. Era casada com um rico comerciante, e era a sensação do colégio, tanto entre o alunado (uma legião de adolescentes) quanto entre os professores, que não deixavam passar despercebida a admiração pelas formas perfeitas da bela professora. 
E foi essa bela professora que se tornou a melhor amiga de nossa heroína com cara de santa. Mary, esse é o nome dela (acho que não poderia ser outro) se encantou com a beleza de Heloísa, com seus modos e com seu estilo de vida. Mary, solteira e virgem, como convêm a uma santa, alimentava sua natureza diabólica (até as santas possuem tal natureza) com as aventuras narradas por sua amiga Heloísa, que sendo casada não se cansava de ter casos amorosos e manter até mais de dois amantes fixos, mesmo na cidadezinha onde residiam. Isso acendia o desejo de Mary, mas não por homens ou pelo desejo de ser penetrada; ela desejava o corpo e a alma de Heloísa.
Mary era fascinada por Heloísa, que continuava a ter seus amantes e acrescentara à sua lista a ingênua e apaixonada Mary. Ela alimentava seu amor com promessas de um futuro que as duas teriam juntas e bem longe daquela cidade do interior. Heloísa até arranjou um namorado para Mary, para que ambas pudessem manter a aparência de heterossexualidade, e poderem se encontrar mais vezes e até viajar juntas sem despertar a maledicência dos outros
Por quase dez anos mantiveram essa relação. Mary, apaixonada, devotada e submissa: ela chupava a buceta, a língua, o ânus e os peitos da sua exuberante amante, e recebia em troca uma masturbação manual, às vezes Heloísa enfiava um vibrador nos dois orifícios de Mary, mas não gostava de chupar sua buceta. Heloísa continuava a ter amantes, Mary, mantinha o namorado de fachada que pensava em se casar por ter lhe tirado a virgindade, coisas de honra de macho. Não queria que Heloísa tivesse mais amantes, queria ela só para si, aliás, queria ser como ela ou ser ela, para que ela nunca lhe faltasse.
Esse foi o começo do fim. Heloísa não aceitava cobranças, seu espírito libertino a levou para outros caminhos bem longe de Mary, que se sentia cada vez mais terrivelmente sozinha. Ela não tinha ninguém, nem o namorado de sua farsa ela conseguiu manter. Entrou em depressão, perambulou por clínicas psiquiátricas, dopou-se com psicofármacos e até tentou suicídio. Não conseguiu morrer. Até isso lhe doeu, sensação de ser incompetente até para tirar a própria vida. 
    

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