terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Cinquenta Tons de Cinza - a perversão em preto e branco!



Vou tentar analisar em poucas linhas o filme, será uma análise um tanto superficial pois não li o livro, que poderia me dar subsídios para um entendimento mais profundo. Mas, trata-se da história de uma paixão que vai mexer com a estrutura perversa de um dos envolvidos, no caso o Sr. Grey (cinza em inglês), um executivo de sucesso aos 27 anos e uma jovem estudante de literatura, tímida, recatada e virgem, Anastasia Steele, de 21 anos de idade.

Existem vários símbolos contrastantes que se apresentam ao correr das cenas: as cores das roupas e acessórios de Grey que são sempre cinzas, as cores do quarto dos encontros sadomasoquistas que são em tons de vermelho (cor associada à paixão, ao amor e ao sexo); o contraste pobreza e riqueza, dominação-dominado que surge como proposta da relação; e, talvez o mais relevante de todos, o contraste sinceridade e abertura ao amor, do lado da protagonista versus medo e defesa do lado de quem parece ser tão seguro de si. Uma cena digna de nota é que no quarto que ele propõe que ela ocupe nos finais de semana, há uma gravura no papel de parede em que aparece uma gaiola com um pássaro dentro, mas que está com a porta aberta, querendo dizer que ela estaria ali por sua própria vontade, podendo sair da gaiola quando quisesse.

Anastasia vai aos poucos destruindo a couraça protetora de Grey, que com seu jeito de menina desprotegida - prato perfeito para um dominador sádico - vai abrindo brechas cada vez mais profundas nas certezas, regras e mitos do dominador, que, sem se dar conta, passa a ser o dominado. Ele tenta quebrar a resistência dela usando a arma "infalível" da dominação: o dinheiro. Quebrou a cara, a demanda dela é outra. Quis agir como uma caricatura de "pai" (ela não teve um pai biológico presente, porém, seu padrasto foi pai) que põe limites ao desejo caótico do filho mas não consegue ser pai, não dar pra ser pai sem ter o "nome-do-pai" inscrito.

Ele não se deixa tocar, diz que não faz amor, apenas fode, que não dorme com ninguém, mas dormiu com ela, que não é romântico, mas fez um monte de firula romântica. Ela mostra pra ele que se pode foder e fazer amor ao mesmo tempo. Ela se manteve virgem até então por respeitar seu próprio desejo, quando diz que apesar de ter muitos homens lhe desejando, ela ainda não tivera o desejo por nenhum deles. Ele, pelo contrário, envolveu-se ainda adolescente com uma dominadora amiga de sua mãe em uma relação totalmente edipiana. Era (e parece que continuou a ser) um menino tentando foder com a mãe e sendo castigado por isso.

O final é bastante interessante, revelador da farsa da perversão de Grey, que mais parece histérica que perversa. Anastasia pede para experimentar aquilo que ele deseja fazer com ela no quarto vermelho (na primeira vez em que ela esteve lá foi uma relação normal de fantasia e brincadeira, sem violência); então, ele a castiga seis vezes com uma vara, de forma violenta batendo em suas nádegas. Ao fim do castigo ela pergunta: "Era isso que você queria fazer comigo... era assim que você gostaria de me ver...". O projeto de pervertido sexual, tão poderoso e senhor de si, fica estarrecido, foi pego de calças curtas feito um menino que fez merda e não sabe onde enfiar a cabeça. Anastasia vai embora, e deixa para Grey a mensagem de que se é realmente isso (dor, sofrimento e humilhação) que um sujeito deseja para a parceira, esse sujeito é um nada, não tem valor; que inclusive seu poder financeiro são apenas ilusões de uma mente doentia.

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