quarta-feira, 23 de julho de 2014

Justiça divina?

Imagine a cena: Deus manda chamar um de seus mensageiros, no caso um anjo, e pede-lhe que escreva um texto sobre a vida de uma certa mulher, que chamaremos de Ruth. Deus põe a mão no ombro do anjo e diz apontando para a terra: "Tá vendo aquela mulher, de cabelos compridos, pois sim, sempre foi uma sofredora. Cresceu sem ter o amor de sua mãe, alcoólatra e devassa e seu pai nem chegou a conhecer; mas, desde muito nova se converteu ao nosso evangelho e sempre cuidou de fazer tudo certinho. Nunca fumou, nunca bebeu bebida alcoólica - apesar da mãe - e nunca fez sexo até a idade de 43 anos. Manteve-se virgem e casta até encontrar seu atual marido e mesmo casada só veio a perder a virgindade três meses depois da cerimonia do casamento. Uma verdadeira mulher de Deus, minha claro, dedicada a meu serviço na terra, mulher de oração, dedicada aos cultos, dizimista fiel, um verdadeiro exemplo de crente. Eis que agora ela quer engravidar, aos 44 anos e vem me pedindo isso; e, como para mim nada é impossível vou lhe conceder esse desejo de ser mãe". O anjo exclama maravilhado: "Oh! Senhor como és misericordioso e justo ao atender o pedido dessa fiel mulher, que devo fazer?".
Anote aí disse Deus: "Essa criança nascerá com síndrome de Down, e com todas as complicações decorrentes dessa síndrome, com cardiopatia, problemas pulmonares e um refluxo quase mortal, além disso também terá hipotonia total, não se alimentará pela boca, respirará com a ajuda de aparelhos  e viverá mais tempo na UTI do que em casa em seus primeiros quatro meses. Sua mãe sofrerá muito ao ver a filha passar por tantos procedimentos cirúrgicos e hospitalares, chegará a desejar a morte, sua e da filha, e chegará ao cúmulo de questionar meu poder e autoridade... Espere aí, aonde é que você está indo anjo?". "Estou descendo para terra Senhor, vou me juntar a Lúcifer, ele pelo menos trata bem melhor seus seguidores, e tem um senso de justiça mais acurado que o seu".
Essa história foi relatada por Ruth, mãe de Raquel que tem síndrome de Down e desde que nasceu vive em uma UTI pediátrica depois de ter feito uma cirurgia cardíaca e ser contaminada por duas fortes bactérias no hospital. Ela sempre foi religiosa, e sempre acreditou que Deus pune o mau e recompensa o bom como ensina a Bíblia, e vive a se questionar por qual pecado estará sendo punida, e mais, qual o pecado da pequena Raquel que desde que nasceu só experimentou o sofrimento? Ela me diz que suas crenças religiosas estão desmoronando, e vem percebendo que suas orações não tem o poder que imaginara um dia possuir, nem a de ninguém.

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