domingo, 26 de novembro de 2017

FUI VÍTIMA DO POLITICAMENTE CORRETO!

Pois é, acho que até demorou um pouco, mas enfim, fui vítima do politicamente correto; e partindo de onde a tempos atrás não seria esperado, dos estudantes, meus alunos. Às vezes penso que a capacidade de raciocínio lógico dessa moçada foi comida por algum monstro dos jogos de  videogame que jogaram em suas infâncias, mas logo descobri que os meus críticos eram - em sua maioria - estudantes que haviam sido reprovados em minha disciplina no semestre anterior; o que deu ao "artigo" publicado numa rede social desse grupo uma aura de vingança contra o professor malvado que reprova alunos.
Mas vou generalizar, pois, tal fato acontece em todo país, e não vou me ater apenas ao pensamento de alguns alunos do curso de Fisioterapia - curso que estimo, pois sou frequentador assíduo de sessões de fisioterapia graças a duas hérnias de disco, e sou eternamento grato pela existência dessa profissão e arte - já que eles são apenas uma parcela dessa tendência crescente de reproduzir o que nem sequer chegou a ser digerido.

Pois bem, eis que hoje ao chegar à universidade para lecionar, sou indagado por duas alunas do curso de medicina se eu não ia fazer nada sobre o que postaram na internet. Não fazia ideia do que era. E o susto foi grande quando li numa postagem do Instagram que eu era machista, transfóbico, intolerante, incitador da violência, antiético etc. Fiquei estarrecido.
Fui acusado  de desrespeitar as crenças dos alunos. Gostaria muito de saber o que isso significa. Seria talvez eu ter que perguntar a cada aluno em que eles acreditam para poder emitir alguma opinião? Ou seria o fato de eu ser ateu? Ainda assim nunca desrespeitei a religião ou crença ou falta dela de ninguém. Posso ter falado de pastores evangélicos que roubam os fieis com promessas de prosperidade e saúde, de padres pedófilos, de charlatões espíritas e imãs pervertidos. Falei sim, como professor de Psicologia tenho como tema básico para tudo o COMPORTAMENTO HUMANO, tudo que é humano nos diz respeito, será para sempre o lema dos Psicólogos. Logo, falarei sim do comportamento humano sem pedir licença, mas sempre respeitando as crenças alheias, esse sempre foi meu comportamento em sala de aula e na vida, respeitar o pensamento do outro, seu direito a tê-lo e expressá-lo. E além do mais, ateu de verdade não faz proselitismo, não queremos que você pense igual a nós se sua crença lhe faz feliz. Não faço defesa de minha descrença nos deuses em sala de aula; em determinados momentos de um assunto que se refira a religião, tenho cuidado em fazer algumas ressalvas e uma delas é confessar minha descrença. O que até então não tinha sido um problema.
Outra acusação foi a de ter desrespeitado a identidade de gênero dos alunos. Não acreditei. Nos primeiros anos dos cursos em que leciono tenho em média dez alunos de cada curso (Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional), somados são trinta. Dos trinta, todos pareciam estar confortáveis com suas identidades de gênero, homens gostando de ser homens e mulheres gostando de serem mulheres. Se ainda tivesse algum aluno "Transexual" não teria como desrespeitá-lo(a), já que não julgo as pessoas por suas crenças, nem por sua aparência, nem por sua raça ou sexo. E ainda que eu acredite, em consonância com minha posição teórico-clínica que tais pessoas (os transgênero e/ou transsexuais) apresentem problemas psicológicos, o fato de serem seres humanos me leva a respeitá-los incondicionalmente, ainda que não concorde com a sua abordagem teórico-filosófica sobre o tema; do mesmo modo que não concordo com a imagem que a jovem anoréxica faz de si própria - para mim ela não é obesa, e não basta a sua certeza para me convencer do contrário. Do mesmo modo com relação aos "Trans-espécie", para mim eles são tão humanos quanto eu. Não podemos acreditar na teoria de que aquilo que eu penso que é, é. Quando um indivíduo diz: "Eu sou Napoleão Bonaparte", eu devo responder: "certo, prazer Napoleão" ? Não. Não é assim que funciona. Você pode pensar e acreditar que é Jesus, Deus, Maria Antonieta, Zumbi, uma gata, um pássaro, o ET de Varginha ou um homem que nasceu no corpo de uma mulher, ou mulher que nasceu no corpo de um homem. Vamos ter que conversar sobre isso (se ele ou ela for meu paciente), sobre os caminhos que o sujeito do inconsciente percorreu e percorre em seu inexorável caminhar desejante e sobre o processo de identificação.
O pior é constatar que esse pessoal do centro acadêmico não é muito inteligente (não foram reprovados à toa); duvido que algum deles saiba a origem dessa falácia grotesca da "identidade de gênero", duvido enormemente, pois, pela experiência de mais de trinta anos de docência dá para perceber a cada ano o declínio da capacidade de pensar logicamente dos alunos que chegam a universidade. Esse fenômeno é observado também por outros professores, e as estatísticas não mentem: temos uma das piores notas em educação no ranking mundial, e piorando. Esses jovens não os únicos a chamar as pessoas de intolerantes e agirem eles mesmos com a maior das intolerâncias, isso parece ser um fenômeno maior que abarca a política do país, vítima de um discurso esquizoide que se declara como verdade inquestionável. "Sou tolerante com aquilo que concordo e intolerante com qualquer discordância de meu pensamento", essa é a prática corrente desse tipo de pensamento; por mais incongruente e sem lógica, esse parece ser o pensamento dessa juventude  pseudoliberal.
Mas o que é ideologia de gênero? Para resumir é só anti ciência. Mistura de marxismo, feminismo e ativismo LGBT+, gerando um monstro conceitual que não é consenso nem entre os participantes do movimento, e de quebra, é refutado a cada nova pesquisa científica. Nem os militantes gays sérios concordam com essa maluquice. Para os defensores dessa falácia grotesca, se um indivíduo escolher um determinado gênero que  lhe agradar, danem-se as questões biológicas, psicológicas e outras mais que surgirem, quem melhor que eu para saber o que me convém, dizem os convertidos.
Mas o que esperar dessa geração de estudantes mimados, que odeiam os livros, educados pela TV Globo, pelo que há de pior na Internet e pelo discurso hiper liberal e anacrônico do é "proibido proibir" ? Ou seja, tudo que o discurso fascista de esquerda prega? Longe dos livros, do estudo sério e imersos na dinâmica do "achismo", os adolescentes universitários se descobrem detentores de um saber comparado ao dos papagaios - saber repetir as palavras que me ensinam (ou as mais ouvidas). Não há questionamento. Infelizmente essa é a posição da maioria dos estudantes.
Fiquei bravo quando li o artigo, por sinal, cheio de erros de português, mas logo me dei conta de que aquilo representava apenas o pensamento de uma minoria de estudantes que imita papagaios; e, a solidariedade manifestada por muitos alunos e professores foi reconfortante.
Lembrei-me de meus tempos de "Movimento Estudantil" nos anos 1980, e vi que apesar de sermos imaturos estudantes comunistas (e a maioria adolescentes), buscávamos nos livros, jornais e revistas as informações necessárias para nosso crescimento intelectual.

Gosto de lembrar que as esquerdas brasileiras da época (PCB, PCdoB, MR8 e outras correntes trotskistas e anarquistas) denunciavam o recém criado Partido dos Trabalhadores como sendo  um partido social democrata, antirrevolucionário e contra a classe operária. E acertamos, no entanto, a esquerda brasileira cedeu, e desde então o PT passou a ser o guarda-chuva dos marxistas dos mais diversos segmentos. Por isso entendo esses alunos. Eu também fui um intolerante em certa medida enquanto esquerdista. Uma vez fui implacável com um colega filho de um deputado estadual - eu não sabia até então que estava a falar mal do pai dele. Só não chamei o pai dele de bonito: desfilei meu discurso esquerdista de que quem vota em alguém de um partido que apoie a ditadura militar é um reacionário e antipatriota, mesmo que o candidato seja de sua família. O colega não gostou e me perguntou se eu não votaria em meu pai se ele fosse candidato pelo PDS? Respondi que não; que os interesses do meu país eram mais importantes que meus vínculos familiares. O colega me respondeu freudianamente: "Poxa vida, você deve ter algum problema sério com seu pai". Nem tinha, mas só vim a entender o recado anos depois ao estudar melhor a teoria psicanalítica e aprender mais um pouco sobre política.
Os estudantes de hoje foram educados desde o ensino médio de uma forma terrivelmente equivocada, que enaltece a vitimização e impede raciocínios mais complexos sobre qualquer coisa. O típico discurso vazio da esquerda caviar que endeusa heróis assassinos (Guevara, Lenin e Stalin), intelectuais que quase ninguém leu (Paulo Freire, Boff, Gramsci e Chomsky), políticos corruptos (Lula, Dirceu, Genoíno) e ideologias nitidamente totalitárias que tentam transformar o Estado em pai e mãe (tirânicos sempre) do povo, mas ainda assim achando que falam em liberdade.
A esperança é que muitos desses idiotas-úteis vão ver a realidade alguns anos depois. E, felizes os jovens que já conseguem lidar com a realidade de forma madura, eles existem, e sou grato pela sua existência e persistência, malgrado todos os esforços dos opositores, que parecem ser maioria na universidade.

Meu medo é que ocorra com eles o que já vem acontecendo com grande parte da população brasileira: uma passagem, devido a decepção com os esquerdistas, para uma posição de extrema-direita, messiânica e autoritária, que elege como herói um sujeito destemperado como Jair Bolsonaro e tem como ídolo intelectual Olavo de Carvalho. Quando eu falava dessa preocupação em sala de aula, enquanto fenômeno da psicologia social, alguns demonstravam certo desconforto, mas não falavam mais que uma frase, não tinham argumento, sabiam que eram contra aquilo, mas não o por quê. Ocorria o mesmo quando eu dizia de meu desejo de ver na mesma cadeia Temer, Lula, Aécio, Renan, Collor, Sarney. Preferencialmente junto aos já presos. Alguns até gostavam, mas ainda assim não pareciam saber por que gostavam
Finalizo meu desabafo fazendo um apelo óbvio: caros estudantes, não aceitem verdades prontas que parecem vir cheias de boas intenções, como justiça social, fim da opressão ou igualdade de direitos. Os maiores desrespeitos cometidos aos direitos humanos, a liberdade individual de pensamento e crença tanto política quanto religiosa e de orientação sexual vieram justamente desses que hoje defendem essa farsa chamada ideologia de gênero.



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