quinta-feira, 20 de abril de 2017

O desafio da Baleia Azul

O "jogo" suicida da baleia azul vem ocupando nas últimas semanas lugar privilegiado na mídia graças ao crescente número de jovens (adolescentes principalmente) que tem aderido ao mesmo, e em alguns casos, com final desastroso. Mas, o que é isso? Porque jovens se submetem a um jogo marcado pelo sofrimento, dor e morte? O que os leva a participar dessa idiotice sadomasoquista?
Os psicólogos sabem desde muito tempo que o período da adolescência é marcado normalmente por uma vivência patológica e muitas vezes psicopática decorrente dos lutos vividos nesse período (luto pelo corpo perdido, pelos pais da infância perdidos, pelas certezas perdidas, pela incerteza e crise de identidade, entre outros); ou seja, muitas perdas para dar conta, o que pode gerar ou agravar comportamentos que chamamos hoje de "depressivos". Para lidar com esses lutos o jovem recorre a algumas estratégias como forma de defesa, e a ligação aos grupos de pares é uma delas; pertencer a um grupo e ser aceito por ele é uma forma de se sentir menos deslocado num mundo de adultos que geralmente não compreendem o que está acontecendo realmente dentro de suas cabeças, e muitas vezes o grupo em que se é aceito tem características nitidamente destrutivas.
Quem não já viu os grupos de "patricinhas e mauricinhos de shopping", skatistas, rockeiros, regueiros, nerds, grupos de igrejas, games maníacos, funkeiros e esportistas? Grupos pacíficos que conferem identidades pelo menos momentânea. E também vale lembrar grupos não pacíficos, agressivos mesmos (sádicos) como os "carecas do ABC", hollingans, skin heads e radicais islâmicos. Pois bem, estamos diante do mesmo fenômeno, com a diferença de que esse grupo "desafio da baleia azul" é suicida e por isso mesmo encontra acolhida na mente dos jovens melancólicos que veem nele aquilo que faltava para criar coragem de tirar a própria vida, porque agora o suicídio é grupal - os membros do grupo trocam informações sobre seu processo das 50 tarefas.
Esse é o real perigo de tal grupo, pois, suicídio entre jovens sempre existiu e o Brasil ocupa a oitava posição no ranking de suicídios entre os países sem precisar da "baleia azul". Mas será que dá para evitar que seu filho seja fisgado por esse grupo? A resposta é sim, pois, até o jovem chegar a cometer o suicídio ele deve cumprir 50 etapas ou tarefas, e eu não quero afirmar, mas vou, que a família dos jovens que chegaram a quinquagésima etapa foram no mínimo negligentes. O jogo não é nada sutil, cada tarefa envolve mutilação ou comportamento estranho, e como a família não percebeu isso? Por isso afirmo sem sombra de dúvida que um jovem que consegue manter um diálogo aberto com sua família (seja só a mãe ou só o pai, uma avó ou tia, ou uma prima, cunhada) não chegará nem a terceira tarefa.

Vejamos as tais tarefas, fiz um "pacote" para não ter que transcrever as cinquenta, mas vocês podem conseguir o conteúdo na internet:
1. Assistir filmes de terror só na madrugada. Será que não dá pra saber se os filhos estão dormindo bem ou não sem ir ao quarto deles na madrugada? No dia seguinte estarão sonolentos com toda certeza. Vocês tem conversado sobre horários?
2. Fazer cortes no braço. Depois desenhar a baleia. Fazer furos nas mãos, o máximo que conseguir. Faça-se sofrer, fique doente, se machuque é a ordem dada. E aí famílias, vocês estão mesmo vendo esse jovem, conversando com eles? Creio que não.
3. Ouvir determinadas músicas escolhidas pelo tutor chamado de "curador" (significativo não?). É significativo um sujeito se intitular curador (o que cuida dos interesses da pessoa no sentido jurídico; e aquele que cura no jargão popular) quando seu objetivo é levar o outro à morte, como se esse fosse seu real desejo, pois a Psicologia nos ensina que o suicida não quer morrer, QUER ACABAR COM O SOFRIMENTO DESSA COISA SEM NOME. O curador nem representa o sujeito e nem cura.
4. Subir em telhados, antenas, qualquer coisa alta e perigosa, se pendurar e mandar fotos para o curador. Será que ninguém vê isso?
5. Procurar outra baleia. Isso já caracteriza um grupo organizado, com espiões, mensagens secretas, encontros secretos com outros membros que compartilham fotos pelas redes sociais; tudo que acontece num grupo em termos de interação.
6. Todos os dias o jovem deve acordar as 4:20h e fazer um corte no corpo e ficar um dia inteiro sem falar com ninguém. Se o pai ou mãe ou cuidador não vê esse comportamento, e se vê não acha estranho, então não sei o que vocês estão fazendo. Como você fica um dia inteiro sem falar com alguém que mora com você na mesma casa?
7. O curador vai avisar o dia de sua morte.
Pelo que foi exposto dá pra evitar que nossos jovens embarquem nessa barca furada, basta que tenhamos real interesse em seu bem estar, e nem precisa estar colado nele o dia todo e todo dia, basta haver interesse, amor se preferirem, e certamente a baleia azul continuará a ser apenas o maior mamífero da terra.

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